terça-feira, 28 de julho de 2009

Não.

Ao tentarmos dizer não ao coração, ele nos responderá: Desculpe, mas tenho vida própria. (Contribuição de: Dani Paulino).

Pessimismo

Deve ser difícil manter um otimismo em vistas do que vivemos. Não só nós agora, também ao lembrarmos de o que se já viveu. De uma devastação ameríndia, nos séculos 16-7-8-9, de uma escravidão, das algumas guerras, da devastação populacional que não vemos, aquela que hoje coloca absolutamente a parte do mundo uma fração considerável, se não a maior dele. De um continente africano, no lugar escondido do mundo... Ou porque me mantenho longe de casa, de países assolados por fome, desnutrição, lá onde eu vivo. Por uma Ásia, e seus milhões, sem.

Isto, só pra citar BEM por alto o quanto passamos pra nos "tornarmos humanos".  Não contabilizei montanhas e cidades de sangue derramado, o terror, e o fato de que ao chegarmos aqui. Até o chegarmos aqui, extinguimos um sem número de animais, e o continuamos a fazê-lo. Queimamos e destruímos ecossistemas sem hesitar, nos tornamos como os únicos e absolutos senhores capazes de sob força usar o planeta e suas vidas. E nós somos. Os únicos.
E sendo os únicos, usamos esta força de maneira que não consigo definir, mas não preciso, já o fizeram: "a fraqueza alimenta a força, para que a força esmague a fraqueza."

Qual seria o propósito de se lembrar de tudo isso?
Há quem diga que lembramos pra montar uma indústria e vender a desgraça aos olhos dos outros. Afinal, a desgraça vende muito mais do que qualquer coisa neste mundo. Há ainda quem diga que lembramos, porque precisamos esquecer...
Quanto a mim, preciso lembrar, pra saber o que não quero fazer. Onde eu não quero chegar, e não queria que ninguém chegasse. Isto não é suficiente mas é tudo que eu consigo fazer.

E na verdade. Há coisas que nunca as deixo para esquecer. Mais do que isso, elas, não se deixam a esquecer. Como esquecer o índio que foi queimado pelos adolescentes que estão soltos? O índio, de nome Pataxó, que não fazia senão dormir. Esperando alguém lhe deitar fogo ao corpo. Eu não era muito grande, mas fiquei sem rumo... como podia existir uma barbárie assim, e que viria a se repetir por milhares e milhões de vezes, no mais das quais eu não ficaria sabendo. E que foi repetida também, sem que chegasse a saber. (e chegar a saber, muda alguma coisa?). 
É só um pequeno ponto na curva das tragédias que aconteceram, mas um ponto que não se quer deixar esquecer.

Porque afinal... se esquecermos... é porque não estamos mais vivos.

Eu gostaria de resolver os problemas de todo mundo, gostaria que todo mundo parasse de sofrer neste momento, gostaria que este passado e o futuro, os tormentos, fossem só uma história de terror de um roteirista sem coração, isto e muitas outras coisas. 

Mas...infelizmente. Não consigo resolver nem meus problemas, nem evitar que eu mesmo sofra, e muito menos, com qualquer outro ser...

O que se me põe ao coração é só. Achar que a compaixão é uma arma poderosa que está ao alcance de todos. Que com ela, possamos de alguma maneira alcançar todo mundo (não sei se há uma interpretação em palavras, objetiva, por A+B para esta frase, de fato sei que não HÁ! em verdade há coisas, que não se pode definir com pensamentos).

Pessimistas... São os que mentem, e realizam estes fascinorismos.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nostálgica.

Chove lá fora. Tão lindo. Tão calmo, sereno, e um pouco triste. Noite com chuva de verão. A chuva de verão como a que chove agora pede alguma música preparada, já presa no inconsciente: o concerto 3 de Rachmaninoff, no momento, depois da cadência em que a orquestra e o piano silenciam numa voz única na mão direita da pianista, cantando um lamento unicamente lindo, belo, unicamente poético, pleno de serenidade, depois do festival de trovoadas que foi o chegar até ali...

A chuva lá fora e este momento do concerto são iguais, são a mesma sensação. É um momento de pausa nos pensamentos dolorosos, um refúgio pras consciências que se doem. É um Claire de Lune, de cima do prédio, no mato, na beira do lago, no reflexo da água, nas retinas do outro, ou só no pensamento. É impossível ser ruim. Se diz que disse Lênin na Rússia Czarista, ou pararia de escutar a Apassionata de Beethoven, ou não faria a revolução. Diz-que-me-diz-que.

Diz-que-me-diz-que, que Saramago diz também em seus diários, que se uma música pudesse representar o que ele sente, ou sua pessoa, como seria por dentro (além da "uma coisa dentro de nós que não tem nome, essa coisa é o que somos"), deveria ser o Estudo n.7 op. 25 de Chopin (isso, pelas próprias palavras dele, para não apontar aí um "escândalo" como a "Paixão Segundo São Mateus" de Bach, uma obra de tal porte, seria um disparate escolher algo como, para dizer "isto é o que eu sou, isto é o que eu sinto").

Já estive a me perguntar, o que é que move as montanhas do debaixo da minha pele, mas não encontrei. Gosto e sou, pra não dizer, me identifico como se fosse parte do meu corpo. E toda vez que ouço uma coisa linda e nova... ah, isso é tão precioso... tão bonito. Como se apaixonar e ser correspondido. Foi assim, com o concerto 1 pra violino e orquestra de Bruch. Toda vez que escuto, é como se a minha própria pessoa, se tudo em mim, o corpo, a consciência, ou simplesmente as moléculas, tomassem corpo nas notas, tornando-se eles mesmos parte do que escuto. Tão lindo... tão precioso, tão bonito. 

Seria-me impossível apontar sou como esta, ou como aquela música. Posso dizer que agora, sou como este concerto e amanhã, como um quarteto 2 pra piano e cordas de Saint-Saëns (o que foi há algum tempo na verdade), mas de fato, todas essas sensações ficam... Elas me habitam de maneira que cada vez que ouço de novo, ... É tão lindo...uma lembrança à "nossa, isso existe, e é tão lindo... porque você esteve tanto tempo fora de mim?"

Nas memórias inconscientes, dolorosas, saborosas, prazerosas, amedrontadas, a que mais guardaria com gosto pra um dia dizer: queria ser assim, a que eu guardaria pra não conseguir perder, seria essas sensações das músicas... Gostaria sim, (ah como eu gostaria) que todo mundo pudesse compartilhar de tais memórias, de tais sensações, mas por muitos fatores isto é - presente, passado e futuro - impossível. Principalmente porque, mesmo que acessível, mesmo que todas as pessoas possam escutar essa música... Ela não vai trazer a todos e nem a uma maioria, muito provável, essas memórias.

Isso é único... não é exclusivista, mas uma pequeneza que me faz diferentinho de alguns e próximo de outros.
À pieguice pedimos escusas, mas. É o que permite que meu coração conecte direto com o coração de Bruch. Com o da violinista que sola, dos músicos da orquestra, e do maestro, e de mais todos os que quiserem e tiverem vontade de estarem conexos, formando uma unidade...

Não viveremos só de dores, e porradas. Precisamos de refúgio no escaninho de alma. É difícil, e cada um precisa achar o seu.

Com seus tímidos olhos azuis...

Olhe para eles rindo, com seus tímidos olhos azuis, timidamente rindo. Suas tímidas bochechas e sua tímida boca, rindo-se tímidos juntos. Os tímidos dentes, timidamente escondidos atrás dos lábios, todos envergonhados e por trás uma língua contraída.

De onde vem a timidez?
...

domingo, 26 de julho de 2009

Onde a ferida dói.

Lá onde a ferida dói, lá é que Mara, o senhor das ilusões vai botar o dedo e cutucar. Lá onde ela dói. Mara, o senhor das ilusões, senhor da juventude eterna, pai da cosmética.

Estamos ficando eternamente jovens, eternamente adolescentes, estamos em frenesi pelo momento único da juventude. Eternos na juventude, sem rugas, sem problemas, juventude cheia de energia, que não sofre. Juventude com celulares, Ipods, orkuts, notebooks, juventude tecnológica, que não envelhece. Que se renova a cada 6 meses com a troca de velhos computadores por novos.

Uma juventude assim, como a de tudo que queremos... Mesmo quando adultos, quando 40, 50,60, 70 anos estamos eternos e jovens, pelo menos na mente, nós desejamos não ter mais que 20,30, desejamos alguém que não tem mais que 20, desejamos a mesma energia, e as baladas dos 20, desejamos a fonte que nos leve de volta ao que uma vez foi nosso. Uma vez.

Então, sim, eternos e jovens, celebramos, brindamos, Libiamo ne lieti calici che la beleza infiora, Godiamo la tazza e il cantico la notte abbella e il riso, in questo paradiso ne sopra il nuovo dì...

Il brindise.

A jóia que realiza os desejos. Mas os tempos não foram todos assim. Ó céus, eles não foram. Antes de termos a tecnologia e os psicanalistas para suporte emocional ao desgaste tecnológico, antes de termos que trocar de celulares a cada ano, computadores a cada seis meses, novas tecnologias de som a cada 2 anos, e um monte de micro aparelhos, utilíssimos, tínhamos que. Não tínhamos que nada, porque não tínhamos dinheiro, nem o que comer. Os tempos não foram sempre assim, não.

E antes disso, antes, o que havia? Se escreveu já que uma molécula disse sim a outra e a vida começou, o que foi uma espécie de prova de que as coisas começaram com um sim. É difícil ponderar o que houve um pouquinho antes disso, já que mesmo depois não sabemos.
Ao mistério das relações, se decreta ser inominável.
Na verdade: aquilo que não quer ser chamado.

Bebamos e brindemos à que o tempo nos devolva o paraíso. 

Onde vamos acabar. Nós já acabamos, nas lojas de cosméticos, na cirurgias plásticas, na ginástica, na musculação, já acabamos, no imaginário dos pintores.

Há pintores ainda vivos? Há poetas? Escritores? Esse nicho de gente que não se sabe o que fazem, mas que tentam reavaliar a loucura das pessoas. Ninguém se engane, depois de Freud, tudo isto ficou a cargo da "ciência da psicanálise" que agora se apoderou também do destino do nosso inconsciente, a última parte que era só nossa. Lá onde a gente podia esconder as coisas que ninguém queria saber: medo, fobia, feiurinha, sofro, não sofro?

Sofrer? A última sensação assim foi há dois séculos e meio, quando a pílula anti-sofrimento tinha menos de 10 anos de inventamento.
Se as pessoas morrem? Sim, elas morrem, mas só por um processo inevitável, de renovação, as novas gerações EXIGIRAM que os velhos morressem e fossem substituídos por unidades carbônicas novas, afinal já estavam aí tomando espaço há muito tempo. A partir daí se estabeleceu uma idade limite sabe. Não que não se possa passar dela, mas note-se que aí é preciso de alguns artifícios ardilosos.

Também não fosse assim, e pensamos, numa progressão sempre crescente do número de pessoas e em poucos anos a massa crítica se atingiria, o Governo precisaria intervir em nome da moral de dos bons costumes, pra garantir o bom convívio da população.

A morte tem que estar aí não sabe? A medicina quer criar uma pessoinha com genes inquebrantáveis, validade (e vaidade) pra sempre, só que a morte tem que estar aí...Se a morte sair de férias, oras! Se a morte sair de férias, já tivemos exemplos negativos bastante naquele livro do Saramago, mas depois ela se arrependeu e voltou. Sim, é claro que, se chegarmos a demitir a morte de seu cargo, darmo-lhe a carta das euforrias, o Governo daria um jeito de fazer a coisa funcionar no submundo (me perdoem os plágios).

Porque sim. O que os Governos fazem. O que as morais acertam, os bons cotumes, o bem dos cidadãos. O que o bem de todos os cidadãos pede pra que os governos façam, eles fazem, eles fazem exatamente como queiramos que seja feito. E não tenho dúvida nenhuma que tenha sido assim desde o começo, que a frase "cada povo tem o Governo que merece" é uma grande tolice, afinal ninguém merece Governo nenhum, apenas este é a representação máxima de um poder de pensamento e ações públicos.

E isto é a coisa mais imoral e mais suja que este lugar podia receber... todos estes anseios que precisam ser assegurados a todos os cutsos. 

Brindise: os continuamos assegurando. In questo paradiso ne sopra il nuovo dì.