Entramos e saímos do armário todo dia, todas horas e todos os minutos, na hora da soda, do salgadinho, do olá como vai...
A neurose psicológica do sair do armário, e a neurose de que tudo é tão importante para se manter como está, e que força violenta pra manter tudo assim, dominadinho, certinho, nos seus devidos lugares. Que força virulenta, pra deixar as coisas assim! Tem um espinho afundado na pele, dói mexer nele, e dói tirar, sim, sempre dói, os dois né, deixar e mexer. Tirar o espinho da pele, então nem se fala é uma morte! Dói que a bicha se revolve toda em tripas! E nós continuamos deixando o espinho lá.
Entrar e sair do armário todo o dia é uma energia monstruosa, que chapa o coco. É a maior neurose psicológica que temos.
E o esforço pra não ser e parecer afeminado da comunidade das bichas-másculas-que-adoram-vestir-se-de-preconceitos-horríveis?
Afeminado é mácula! Que coisa horrorosa essa de se parecer com uma mulher, quem em nome de Deus quereria se parecer com uma criatura assim???
Ah não, mas já sei! É porque se as bichas-bichas, aquelas que não são másculas, aquelas que levam o apelido de bichas-bichas, porque uma vez bicha, tudo bem, (as bichas-másculas que o digam), mas duas vezes bicha, ninguém merece, enfim, aquelas que se se parecerem com mulheres, quem vai tomar o poder? Onde vai estar o poder??? Precisamos de um homem, másculo, reprodutor, viril, um chapolim colorado!
Ai que saudades de ser negro... como é que se podia ser negro no armário? Não pode né...
E estes negros sofreram os açoites e levaram a chifrada no cu dos brancos, que ninguém merece, e continuam ainda né. Mas aí não tem que gastar energia e nem ser neurótico com sair do armário todo o dia... não tem que levantar da cama e se preocupar
O armário já está lá... aberto...
Daí o negro levou cacetada né. 500 anos de cacetada, e continua levando... Se foram 500 anos de cacetada sem um armário, quantos mais, a gente (as bichas-másculas, e as bichas-bichas tá? amor e beijinho-beijinho só pra uma não vale) vai levar pra parar de apanhar?
Olha, o Nelson Rodrigues, se tivesse vivo ia dizer: meus queridos... aprendam a gostar de apanhar...
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