Uma coisa assim, inexplicável. Passar a vida toda, uma eternidade inteira de cinco anos na confluência do ser junto com outra pessoa. Uma outra pessoa qualquer que está ali junto. Que com ela forma um já-não-sou-mais-eu-sou-outra-coisa-que-me-perdi.
Uma coisa, inexplicável. Não consigo pensar. Não consigo imaginar. Não consigo tatear, não consigo nada. Alguém me dá um verbo pra conseguir?
Inexplicável. Daí um dia, depois de muitos outros, depois que toda a subjetividade de um e dois foi destruída, um dia, eles pensam: não podemos mais... precisamos mais e mais que um e dois, precisamos outros mais que um e dois. Chegam à dolorosa conclusão de um. Dolorosa conclusão.
Claro. Com eles a coisa não iria ser assim, não iria ser a dolorosa conclusão e até logo. Havia um processo, havia algo, uma emergência, um chez bien.
Decidiram-se: cada qual a sua ponta na muralha da China, 5 mil quilômetros de distância aparte. 5000 quilômetros. São 5000000 de metros, 5000000000 de milímetros, 5000000000000 de micrômetros, podes imaginar o que caberia ali?
Cinco mil quilômetros de "não seis", 5 mil de "e o quês", 5 mil de um tudo.
Põem-se a caminhar. Um caminha daqui, outro já vindo de lá e tempo passado os dois estão a chegar no meio. Se encontram, se abraçam com toda profundidade que podem, com tudo que seu pouco corpo deixa, que sua pouca forma deixa, põem à prova naquele ato o seu nada existencial. Aproveita bem leitor, é o último. Desses não haverá mais, nem por séculos e séculos.
O Universo se abraça junto. E então. E então. Então adeus. Até logo não, não sei, nos veremos? Não sei, portanto não até logo, mas adeus.
Eis tudo.
Eis tudo.
Eis tudo.
O que quantificar, o que precisar, o que analisar, com o que ficar, o que descartar, o que demonstrar, o que escrever, o que levar, o que oq euq euq euq euq equequequeuqeqeqqqqqqqqqqqq.
Finalmente o Universo, que naquele momento se abraçado havia, entrelaçado seus infinitos braços, havia retalhado o tecido do espaço e do tempo, soltou-se por todo. Mas sim, demorou uma eternidade, diz-se que vários outros multiversos nasceram e morreram no meio do caminho.
Em tempo de humanos havíamos contado os quase 30 anos entre o Universo cruzar e descruzar os braços. Foi em 2010 que quando finalmente, sem poder se falar, sem poder exercer poderes sobre o outro (lembramos que o Universo relaxou nesta hora), eles batem os olhos um no outro, de novo um pouco por acaso, um pouco por não sabemos o quê.
Marina Abramovic no MoMA em Nova Iorque recebe Ulay. É o fechamento do suicídio de Virgínia Woolf a dizer: "Leonard. Always the years between us. Always the years. Always the love. The hours." Neste preciso momento, neste instante, neste infinitésimo, neste nada, neste grão de coisa nenhuma, neste átimo, as duas pontas do Universo se encontraram.
Ele sorriu satisfeito.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
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