O prêmio cabeça raspada
vai marchando, cortejo afora
diluindo com a chuva esboeirada
se prende nas consciências nodosas.
Já era tarde quando passavam
em ritual carro condolente,
o que ia por ali não pronunciavam,
apenas um contínuo silente.
Ninguém soube quando
começou a vida a vazar
pra fora dos corpos terminando
por completo a os deixar.
Mas o início de tudo
sucedeu antes, disse o tempo,
a cidade ainda dormente
levantava findo o crepúsculo.
Em tal hora infâme
levantou-se a mão afiada
e em destino sorrateiro
se encontrou à pele delicada.
Era crime de ódio
disse a multidão alvoroçada.
Mas um olhar penetrou o jovem
fez a cena revelada.
Não era ódio o motivo
de tanto ardente estupor.
Sobre os corpos em alívio,
o crime era de amor.
Ao crime de se deixar amar
souberam com a vida pagar
este jovem de nome Mateus
e aquele de nome João.
Seu único mal fora
o amor de si mesmos,
que de tanto amor,
acabou em vermelho tingido.
Não se lhes prestaram honrarias
nem se lhes breve disseram
"foram ambos honestos homens".
Só o carro, na rua fúnebre, seguia.
Que lindo!
ResponderExcluirLindo de novo.
Nene
ResponderExcluirQue beleza, uma beleza tão natural que só podia ter vindo desse cantinho quente e amoroso do seu coração...sigo aqui, tristinha, um pouco sozinha, mas com esperança (um tiquinho) e me aquecendo com lembranças do que um dia foi felicidade. Bjos, te amo.