Militância gay é, vejam que direto, uma faca no peito: desistir da família. E desistir da família dói...
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Militância Gay
domingo, 13 de dezembro de 2009
Mais.
A mais ensandecida: Rainha da Noite.
O corno mais nobre: Rei Marke.
O mais fofo: Papageno.
Macabea
Paixão
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Alltag
sábado, 5 de dezembro de 2009
Aída em Stuttgart
Final de semana conturbado com Aída em Stuttgart.(Há um mês).
Entre camarotes e penduricalhos pra casacos, nos sentamos pra assistir uma montagem modernosa, da ópera, pra mim, a mais magnífica de Verdi.
Nunca tive boa impressão de óperas modernosas, porque as poucas que assisti em Mannheim não foram muito interessantes. Vi uma montagem de Traviata sofrível, até com algumas idéias interessantes no palco, mas a impressão era "o palco está vazio porque não temos nada pra dizer..."
Uma coisa semelhante com a Bohème, a Flauta Mágica e outras.
Depois de apagadas as luzes começa um frio na barriga: o que será agora... expectativa e medo. E começa a ópera: UM CHOQUE. No primeiro ato, os escravos, não eram os do figurino habitual: maquiagem escura e farrapos pra vestir. Os escravos estavam pois em posição de quatro, como poltronas! Depois de milhões de montagens tradicionais, parece que chega uma, te chacoalha, te esbofeteia, te diz: peraí, você não tá entendendo, eles são escravos. Isso mesmo, ES-CRA-VOS...
É a diferença entre assistir um Pasollini, "I 120 giorni di Sodoma" como ambientado no encrave nazista, e assistir um "The Schindler's List". Minha impressão de que quando se contam estórias e fatos de povos "desafortunados" historicamente (pra ser bem suave, no predicativo), tendemos ao sentimentalismo exagerado, que dissipa termodinamicamente o efeito histórico. Qual é o efeito histórico, é o de dizer: foi assim, não se pode esquecer. E me parece que mais do que A lista de Schindler, a idéia clara é a do filme do Pasolini. É impossível nele 1) se colocar como superior à situação (coisa que inadvertidamente acontece no outro caso), 2) saber que há certo e errado (o que de fato não há), 3) tirar algum sentimento bom do filme: ai que gostoso, os malzinhos, ó como foram malvados, e olha os bonzinhos ali! Agora sabemos o que fazer com os malzinhos e com os bonzinhos, então tá tudo bem! (...)
Neste sentido, CLARAMENTE, o filme de Pasolini é uma representação da realidade (muito mais que o outro). Mas não era este o assunto.
O assunto era o choque de ver os escravos: são poltronas, onde os generais egípcios e o povo se sentam. Eram poltronas...
Bom, aí vem Radamés canta o Celeste Aída, declara seu amor eterno à escrava etíope, lindamente, cantam Radamés, Aída e Amnéris, e entra o rei e o povo.
Quando pela primeira vez do tema "Su del Nilo al sacro Lido", o segundo choque. O povo egípcio jurando "lealdade" com uma saudação qualquer coisa parecida com a nazista, mas com mão fechada! (lembrando que a saudação nazista é proibida na Alemanha).
O tema grandioso fecha com o "Ritorna Vincitor" de Amnéris e do povo. Depois que Aída canta a ária do "destino funesto" que caía sobre ela
(i sacri nomi di padri, d'amante
né profferir poss'io, ne ricordar;
(...)
Numi pietà del mio soffrir), entram em cena as sacerdotisas, o que desta vez foi um deleite musical... projeções lindas de cerimônias "religiosas" com elas e Radamés (a religião tinha um certo apelo ao sexo, mas não puramente ao sexo, ao sexo como parte sagrada). Sincronia e afinação entre orquestra, sacerdotes: perfeitas...
Finalmente na última cena do primeiro ato, mais um tapa na cara: Radamés era carregado e saudado por todos e conclamado como herói, como o "objeto" da lealdade do Egito. Todos estavam e pensavam com ele, a religião inclusive, "Numi, custode e vindice." E a representação máxima disso foi a cena do trono sendo carregado enquanto era saudado pelo povo com o semi-gesto nazista: dinheiro era colado sobre o uniforme... Qualquer apologia à nossa situação seria mera coincidência.
Então no segundo ato, o duelo entre Aída e Amnéris. Não sei o que era mais lindo. Cantavam as escravas. A roupa delas: um vestido branco desses de comerciais de margarina feliz, onde eram projetados tanques de guerra invadindo (onde - ?). Entre elas, Aída é incitada a falar sobre o amor por Radamés, pra Amnéris, pela própria. Uma das cenas mais cínicas da história da ópera, (Povera Aida, (...) Io son l'amica tua... Tutto da me tu avrai, vivrai felice!(...) Ben ti compiango!). E um duelo de vozes potentes. Bem ao estilo verdiano, com melodias lindíssimas, cheio de nuances e provações.
Finalmente Aída confessa o amor por Radamés... pra ser imediatamente humilhada por Amnéris (qualquer semelhança com novela mexicana será mera coincidência rs*):
"Pieta ti prenda del mio dolor.
È vero, io l'amo d'immenso amor.
Tu sei felice, tu sei possente,
io vivo solo per questo amor!"
Resposta de Amnéris:
TREMA VIL SCHIAVA!
Este trecho é um dos duetos mais lindos de toda história da ópera. E sem dúvida uma novela mexicana...
No final do segundo ato, estão as marchas e as glórias ao Egito e à Ísis. Mais um choque: as escravas têm o figurino: uma saia verda limão parecendo garota propaganda de refrigerante, e um boné escrito: Egito.
Isto foi um estupro... Apologia clara e manifesta: culturalização de povos dominados... Exemplos do que se passa conosco, e eu quase caí no chão vendo as "egitetes" dançando glória ao Egito, glória à Isis, glória a Radamés. Queria me jogar no palco e espancar todo mundo... Queria gritar, dizer me tirem daqui, queria, queria, queria, mas continuei assistindo, do camarote...
E assim, com o estômago revoltoso, tivemos um intervalo pra recuperar o fôlego.
A volta com o início do terceiro ato, Aída canta sua ária linda, "qui Radames verrà, che vorrà dirmi", seguida pelo dueto com seu pai rei dos etíopes, Amonasro.
Que coisa mais linda é este dueto...nem sei o que escrever sobre ele. O final, é o piano mais lindo da ópera,
"-Pensa che un popolo vinto straziato,
Per te soltanto risorger puó...
-O patria, o patria, quanto mi costi!"
E neste costi, seguido de "o patria, quanto mi costi", foi uma choradeira...
"Coraggio! Ei giunge, là tutto udrò."
Entra Radamés que acaba por falar a Aída sobre o exército egípcio: ouvido por Amonasro, "atrás dos panos".
"Tu Amonasro, tu il Re
(...) io son disonorato, per te tradi la patria, tradi la patria!"
E haja novela mexicana.
No fim do ato, Radamés se entrega aos sacerdotes que o julgarão.
O quarto e último ato é o absurdo musical... é o fechamento da ópera é, parece que a hora de Amnéris dizer: ESTA ÓPERA É MINHA! Logo no começo vem o duelo entre ela e Radamés,
"Già i sacerdoti adunansi", seguido pelo julgamento deste. Amnéris acaba dizendo que a desgraça de um coração despedaçado irá jorrar o sangue sobre os sacerdortes que o julgaram culpado... E haja coração (o meu), pra agüentar Amnéris duelando (duelando leia-se: quem grita mais!) com os sacerdotes e Ramfis (o chefão), gritando desesperada seu amor por Radamés, e uma tempestade na orquestra...
"L'anatema d'un core straziato
Col suo sangue su te ricadrà..."
Esta cena do quarto ato é a minha preferida. Absurdamente pesada, dramática e beirando quase à loucura:"Empia razza, anatema su voi!" grita Amnéris amaldiçoando os sacerdotes... Musicalmente NUNCA vi um espetáculo mais bonito... passei quase a cena inteira arrepiado! Um zilhão de orgasmos múltiplos. A mezzo que cantou em Stuttgart, quando abria a boca tremia o teatro todo. A voz dela encobria coro, orquestra, público, encobria o que tivesse na frente! Uma mezzo grega de nome Chariklia Mavropoulou. Bem à medida da ópera. Como disse antes, a impressão final, do quarto ato é de que a mezzo sai da partitura e diz: desculpem, mas esta ópera é SÓ minha!
O desfecho, a última cena do ato é o enterro de Radamés vivo, e Aída que aparece lá pra dar oi (cf. morrer junto). Afffeeeee Maria...Ser enterrada junto na tumba de Radamés ninguém merece...
De novo a montagem da cena me fez tremer nas bases.
Os escravos como poltronas sendo projetados, em filme, no fundo. No fundo. No fundo, a guerra e os escravos iriam pois estar ainda lá, na tumba de Radamés e Aída.
E assim foi Aída em Stuttgart. Um estupro artístico do início ao fim... Um espetáculo que tenho certeza nunca vou ver coisa semelhante.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
In Meine Liebe
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Céu.
Amor ou, resposta a Camões.
e ferida que dói e não se sente,
e um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer.”
E Prozac pra a depressão.
Compravas um computador,
Consultavas a internet
E descobririas que
Essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam,
Essas mudanças de humor repentinas,
Esses desatinos sem nexo
Nao eram feridas de amor,
Mas somente falta de sexo.”
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Sobre a Realidade
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Johann und Marie
Oh, Wirklich?
Sonho
Configuração do Real.
domingo, 1 de novembro de 2009
Mozart, Mozart, Mozart.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Chorarás. E ninguém ouvirá teu choro.
Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. Eu, por exemplo. (...) Freqüentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento."
Mozart na esquina
Intelectualidade
Delicado Essencial
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Vida Vidinha.
domingo, 11 de outubro de 2009
A Felicidade, por Dalai Lama.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
O Prêmio Nobel da Paz
domingo, 20 de setembro de 2009
Der erste deutsche Text.
Para onde?
sábado, 19 de setembro de 2009
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Auschwitz
No meu entender, não existe nenhuma diferença entre os carrascos de Auschwitz e esses "benfeitores da humanidade"."
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Preparação para a Morte
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
sábado, 12 de setembro de 2009
Agora
no meio do coração,
com palavras preparadas
a disparar, metralhadas.
Uma rajada de vento
na vela bruxuleante
dançando pra cá e pra lá,
até se apagar.
Um desengano,
que não era pra ser
esturricou outra vez
destino lúgubre e profano.
E a vida seguiu, inevitável.
Aconteceu na Sé
O prêmio cabeça raspada
vai marchando, cortejo afora
diluindo com a chuva esboeirada
se prende nas consciências nodosas.
Já era tarde quando passavam
em ritual carro condolente,
o que ia por ali não pronunciavam,
apenas um contínuo silente.
Ninguém soube quando
começou a vida a vazar
pra fora dos corpos terminando
por completo a os deixar.
Mas o início de tudo
sucedeu antes, disse o tempo,
a cidade ainda dormente
levantava findo o crepúsculo.
Em tal hora infâme
levantou-se a mão afiada
e em destino sorrateiro
se encontrou à pele delicada.
Era crime de ódio
disse a multidão alvoroçada.
Mas um olhar penetrou o jovem
fez a cena revelada.
Não era ódio o motivo
de tanto ardente estupor.
Sobre os corpos em alívio,
o crime era de amor.
Ao crime de se deixar amar
souberam com a vida pagar
este jovem de nome Mateus
e aquele de nome João.
Seu único mal fora
o amor de si mesmos,
que de tanto amor,
acabou em vermelho tingido.
Não se lhes prestaram honrarias
nem se lhes breve disseram
"foram ambos honestos homens".
Só o carro, na rua fúnebre, seguia.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
A Hora da Estrela: Clarice.
quem era. Só depois é que pensava com satisfação: sou datilógrafa e virgem, e gosto de coca-cola. Só então vestia-se de si mesma, passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser..."
"...Mas um dia viu algo que por
um leve instante cobiçou: um livro que Seu Raimundo,
dado a literatura, deixara sobre a mesa. O título era
"Humilhados e Ofendidos". Ficou pensativa. Talvez
tivesse pela primeira vez se definido numa classe
social. Pensou, pensou e pensou! Chegou à conclusão
que na verdade ninguém jamais a ofendera, tudo que
acontecia era porque as coisas são assim mesmo e não
havia luta possível, para que lutar? ..."
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Discurso final de "Prayers for Bobby."
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Algo
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Diferente
Se faz
domingo, 23 de agosto de 2009
O Coração
Obscuro, obscuro, obscuro, eterno.
Que veia é a que faz o sangue correr.
O drible entre uma artéria e outra,
e confuso o coração mistura,
se caindo pesaroso apaixonado
de novo pelo mesmo fado.
Mas não pensemos que não se tenha avisado
é longa a data desde quando se pronunciou...
ao coração deixaram-no de lado,
e por vingança da vida o controle ele tomou.
Resolveu que queria pra si, e mais ninguém
o intuito original de toda razão
a de gerar ordem e gerir organização,
e fez progressos que não se soube bem.
Mas o coração se cansou desta labuta
entregou o cetro pra outra mão arguta
que lhe desse garantias de manter a razão
e o deixasse em paz com sua paixão.
Foi-se dali com bico calado,
beiço trôpego e mãos para baixo.
Mas levou consigo o rim e o fígado
Em tempo de dizer, “Autonomia, sem mim? Não!”