quinta-feira, 24 de março de 2011

A Morte de Phèdre







Na morte de Phèdre, de Racine, cantada por Jessy Norman (ópera do Rameau), me dá uma saudade dolorida. Funda no peito. Saudade de Mannheim, dos quatro meses em solução de hidrólese que passei por lá... Dos quatro meses que eu voltava todo dia pra casa pensando: "mas essa gente não tem coração". "Onde se pode comprar um pra eles?". Destes quatro meses que eu tinha a nítida impressão de que todas (ou quase) as pessoas tinham acabado de passar do pré-3 pra primeira série.

Uma saudade derramada, enchendo vagarzinho potes, potes até o transbordo. Jessy Norman e a morte de Phèdre (e a Urlicht que 'segue') foi a única coisa belíssima que me aconteceu nestes meses... Se tivesse por descuido não-conhecido, teria sido inútil, seriam quatro meses de treva (exceto pelo também francês, prelúdio, fuga e variações do César Franck, que me encheu os olhos muitas vezes). Quatro meses tentanto entender pessoas que não precisavam ser entendidas. Quatro meses procurando alguém pra compartilhar minhas angústias, vulnerabilidades, inútil, pois como disse ninguém por lá tinha angústia ou vulnerabilidades eram todos super-homens nietzscheanos.

Se a Jessy Norman não tivesse cantado isso na França em 1983. Seriam quatro meses de saudade seca. Saudade sem saudade. Vazios.