segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Diferente

O que nós não percebemos é que... Somos todos absolutamente diferentes. E estamos desesperados para sermos iguais. Estamos espumando, babando, viscerando por sermos iguais. O pensamento ponteia sempre querer ser igual. Se for diferente... deu errado.  A única realização. É perceber que a diferença é a única coisa que nos une.

Se faz

Se faz quando o coração tem vontade de parar. 
Se chora.
Se faz quando o choro não quer sair.
Se reza.
Se faz quando a reza não se acredita.
Se silencia.
Se faz quando o silêncio dói em venenos e ácidos efervescentes sobre o corpo.
Se bebe.
Se faz quando o beber embriaga até cair envenenado.
Se grita.
Se faz quando o grito engasgou.
Se permite ao coração que pare.

domingo, 23 de agosto de 2009

O Coração

Obscuro, obscuro, obscuro, eterno.

Que veia é a que faz o sangue correr.

O drible entre uma artéria e outra,

e confuso o coração mistura,

se caindo pesaroso apaixonado

de novo pelo mesmo fado.


Mas não pensemos que não se tenha avisado

é longa a data desde quando se pronunciou...

ao coração deixaram-no de lado,

e por vingança da vida o controle ele tomou.


Resolveu que queria pra si, e mais ninguém

o intuito original de toda razão

a de gerar ordem e gerir organização,

e fez progressos que não se soube bem.


Mas o coração se cansou desta labuta

entregou o cetro pra outra mão arguta

que lhe desse garantias de manter a razão

e o deixasse em paz com sua paixão.


Foi-se dali com bico calado,

beiço trôpego e mãos para baixo.

Mas levou consigo o rim e o fígado 

Em tempo de dizer, “Autonomia, sem mim? Não!”


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Haja sexualidade

E depois eu andei pensando como o Caio Fernando, o que mais há pra se dizer sobre os gays.
Andei pensando dolorosamente sobre a adolescência gay, o quanto é um período conturbado. Bom, adolescência é sempre complicada. Já toquei brevemente no assunto num tópico lá atrás "Uma Ferida Aberta".

Sim, toda adolescência é um período difícil, frase mais batida não há. Mas vamos colocar um ingrediente a mais de complicação, o adolescente filho da classe média é gay. Ah bom, aí fica meio que um samba do balangandan. Não estou autorizado pela consciência a falar da adolescência gay nas "classes ricas" (e pouco das pobres). Pelo simples fato de que não vivi e de que não tive nenhuma experiência com isto.
Entre os pobres, o pouco que eu fiquei sabendo de amigos... é parecido. Como não tenho amigos ricos, esta parte ficará pra quando não sei. (E é uma coisa impressionante, as histórias de gays adolescentes, ou jovens que saem do armário para seus pais, como é parecida).

Como um filho gay de pais de classe média sempre soube que, o desejo dos pais da classe média é o casamento de seus filhos. Se o filho for homem, ele tem que ser um macho, provedor-reprodutor. A família tem que se assegurar, de que o machinho, novo no rebanho, consiga angariar para si, e para a moral, sempre novas cocotas, de preferência altas e independentes. (Pelo menos que assim se pareçam...)

Se a filha for mulher ela tem a opção forçada de início à vida sexual mais tarde, é claro, não queremos afinal nossas honras lavadas. Se isto parece manjado, ainda dita por aí as leis faladas e silenciadas de um sem-número de famílias, acreditem...

Aí sorrateiramente, como que dando uma rasteira nos pais, os filhos aparecem com um "sou gay", sou bicha, maricas, viado, gosto de dar ré no kibe, (ou diriam os mais sensíveis: sou diferente...) ou ainda com um "sou lésbica", sapa, calço 47, colo o velcro, ou as mais sensíveis, sou uma menina que gosta de meninas. (A diferença entre o que é a sensibilidade masculina e a feminina, notória: a homossexualidade masculina é mais impronunciável que a feminina mas não esperávamos diferente em uma sociedade falo-centrada).

As reações, bem adversas, vão de socos e pontapés, a botar fora de casa, a choro, a onde foi que eu (nós) errei(amos), a estou sentindo uma dor forte no peito. Há pais que enfartam (sim, história confirmada em primeira pessoa). 

Pra mim, gostaria de alguma coisa à Carmen, no último ato, depois do, Sou gay..., És gay? 
"Ui, cest moi(...) laisse moi passez!"

(o coro, óbvio, acompanharia com o "Victoire, Bravo!", saudando o toureiro...)

Acho que a melhor forma de contar teria que ser alguma coisa do gênero "pai, mãe, sou gay, agora vou me jogar no fogo ali, pra lavar a honra da família..." ou como fez um antigo conhecido: "pai, mãe, sou gay, e estou me expulsando de casa..." (pra evitar futuros danos mútuos, é CLARO)...

Mas sim, sempre se pode esperar a simpatia, ou as reações inusitadas, mas bonitas... Disse um amigo meu pra sua irmã (cujos nomes não cito por óbvio), "Sonia, eu sou gay...Nossaaaa Diego! Eu sabia que você era sensível, mas não sabia que era tanto!".
Infelizmente se trata de uma minoria.

Passado o choque, vamos às administrações dos efeitos colaterais. No caso de expulsão, eu não sei o que há para administrar, é fato, como se administra os pais que além da reação chauvinista, ainda expulsam os filhos da casa. Ah bem, no meu conceito, cadeia é um lugar bem novo e esclarecedor. Mas não me julguem, não é nada, a não ser um bom presente à sua bondade receptiva para boa nova.

Se a reação foi um pouco menor, vão ficar em maior ou menor grau sempre algumas frases de conteúdo interessante. "Eu não entendo você ser gay... não entendo gostar de homens, não entra na minha cabeça como um homem pode deitar com outro."
Esta é a primeira delas. De minha parte, eu não entendo não entender. E não se tratando de culpas, de um não entender o outro, cito apenas que há uma relação vertical: se você não não-me entende, eu não não-te entenderei. Conseqüentes. Portanto, se deixardes o teu não me entender, por conseqüência, o meu se desatará no ato... Entretanto, se insistes, não há o que eu possa fazer.

Outra chave mestra do depois da armadilha que os filhos, estes pirralhos mimados com suas novas modas (e agora ainda Emos!), nos trancaram é "a sua situação" (acho que já deu pra perceber que eu adoro o light motif "o inominável". Foi bem dito por Wilde há muito tempo, como o "amor que não ousa dizer o nome". Pelos vistos ele continua emudecido, e agora fazendo questão de se esconder). "A sua situação", deve sem dúvida se referir ao meu desemprego temporário. (Eu jamais pensei que se refiriria a eu ser gay, se alguém pensou).

Uma outra chamada interessantíssima é o "não conte pra ninguém". Ai de mim, contar pra alguém que sou gay. Nunca isso passou pela minha cabeça! Vou esconder sempre a sete chaves, embaixo da minha pele aqui, esta coisa tão horrorosa que é, ser gay.
"Mas eu só quero te proteger." 
(De seu egoísmo e chauvinismo?).

Finalmente uma pedra preciosa também é a "tudo bem, mas não traga seus amigos gays e/ou namorados(as) aqui em casa, não nos obrigue a passar por MAIS esta humilhação..."
Adoro essa. É como "ah você é gay? Pois então faça-me o favor de virar uma caixinha de alguns centímetros, e posar como motivo de decoração da sala (não esqueça os laços)".

Há uma série de variações a estes temas acima, e algumas outras que desconheço, porque a loucura é a maior de todas as criatividades e sempre encontra novos caminhos pra se apresentar entre públicos refinados.

Mas é claro. Seria esdrúxulo não considerar o sentimento dos pais. Não considerar que sim, pra eles também é difícil aceitar filhos gays (oras, pros filhos, gays, também esta aceitação em geral não é imediata). 
E o porque destas descrições precisas? Porque a parte a estes sentimentos pré-preparados que vêm longa data, desde a sociedade cristã, da "culpa dos gays em o serem", estes que queiramos ou não teremos de lidar, a parte a isso, precisamos, hoje ou amanhã, dissolver um pouco da auto-hipocrisia, e do sentimento conivente com o preconceito, por indulgência... (Conivência essa, bom que se note, que eu também passei, e fui abdicando, em favor do bem-social).
Infelizmente... uma libertação apenas não basta.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

As Três Palavras mais Estranhas

Quando pronuncio a palavra Futuro,
a primeira sílaba já pertence ao passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.

Wislawa Szymborska (poetisa polonesa a ganhar o Nobel em 1996).

As proporções continentais.

Nas proporções continentais, que tenho lido, dos relatórios "viciados" de fundos como FMI, Banco Mundial e órgãos correlatos, temos que a União Européia, os EUA e Japão somam em suas populações algo em torno de 0,94 bilhões de habitantes (2008), ou o correspondente a 14% do total do Globo. Estes mesmos países somam, em relação ao PIB, produto interno bruto do planeta em torno de 51% do total, um valor 3,5 maior do que o que seria a média: 33 trilhões de dólares. O número 3,5 maior é do fato de se compararmos a população de 6,7 bilhões com o PIB de 65 trilhões.

Num grito distoante disto está o continente africano, e o Sul da Ásia. No continente africano, temos uma população igual à do grupo supracitado (0,93 bilhões de habitantes), e ao mesmo tempo, um PIB  total de 1,25 bilhões de dólares, o que significa 27 vezes menos do que o PIB Europa-EUA-Japão. Sul da Ásia, por sua vez, tem uma população perto de 2 bilhões e um PIB também não maior do que as proporções africanas.

Nos grupos intermediários, entram alguns países latino-americanos, China, Rússia (tendendo ao primeiro grupo contudo) e Oriente médio.

Dos demais, Oceania e tigres asiáticos, se aproximam do primeiro grupo em termos percentuais.

Isto é uma análise bastante parcial contudo. Porque, no fundo do nosso quintal, o Brasil, ocupando uma posição intermediária entre as pobrezas e as riquezas, tem ainda a dimensão catastrófica da miserabilidade advinda de uma história corruptiva, que corrobora  com a má distribuição dos recursos. Se na África, subexistem estas populações inteiras miseráveis, na mesma instância, no Brasil 15% da população (minimamente) se encontra em situação extremamente precária. Extremamente precária quer dizer abaixo de qualquer índice mínimo relativo à subexistir (que está muito aquém do existir).

É só esta a tarefa que nos falta para os nossos próximos anos.

Franco-germanófila.

O ser patético é totalmente blaisé.

O ser                 é totalmente blasé.

O ser                    totalmente blau.

    ser                    totalmente  uau.

                              totalmente   lá.

                                                      a.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Diagramação das palavras.

Aponte seu periscópio certeiro.

No nascimento de uma nova palavra.

Não deixa o censor alcoviteiro.

Desarrumar a pruma que andava.


Ó que horror dizia o censor.

Inventaste de novo o furor

Não tens nem o direito ou licença

De mantê-lo sem desavença.


Mas pra isso existem os gramáticos

Sim senhor seu censor, que decidem

Eu cá só estou em delírio

Deliciado com a invenção, um colírio...

Fim de noite

De manhã a criação pede uma folga.

Tempo pra ficar sozinha com calma.

E ronca e sonha com poemas que nascerão.

Gestados nos sonhos e nas imagens noturnas do inconsciente.


É hora de ir pra cama, diz a consciência.

A consciência sempre amiga do conselho.
Aconselha de se esquecer estas bobagens de inconsciente.

Que ataca à vaca louca a noite.


Diz a consciência pra fazer o que se deve fazer.

E nada mais.

Diz e morre pra dormir no inconsciente.

Pedindo e seguindo a desobediência.

O mau Poeta.

Poemas de mau poeta 

mal pensados,

mal talhados,

tortos em linhas retas,

vão que se vão

acusando na mão,

aqui tem um coração

que se senta e pulsa

mas não consegue

dizer com vernáculo

o que lhe vai por dentro

só pensa de momento

sobre algo existir,

Ecco è il fato!


E era italiano.

Finais de Semana

Há aqueles finais de semana sonhadores, esperançosos em Lá  bemol maior, finais de semana em manhãs de sábado com Sol entre folhas de árvores, gosto de relva. Finais de semana com filmes de fim de tarde e que se acabavam no vamos fazer outra coisa porque a televisão no domingo a tarde se negava a funcionar. Parecia dizer: me deixem em paz com minha quietude!


Há aqueles finais de semana nublados, cinzentos e cheios de olhares pro lado em Dó sustenido menor, aqueles em que se olha muito mais pra baixo, um nó na garganta, que passam lentinho, falam baixinho, resolvem uma melodia quieta, e serena de tristeza, límpida, como uma própria flanela de seda, passando lisa no tempo da mesa.


Há os finais de semana tenebrosos em Ré menor, cheio de erros e borrachas e a prova de apagadores de ações feitas e refeitas, penduradas em prego na memória, vincadas a parafusos na pele, que dizem não deixar esquecer este horror que ficou feito, o que se faz e se fará, que diz não deixar esquecer nada disso, tudo anotadinho, no livro das causas sem solução que depois tomará conta não sabemos quem.


Há aqueles finais de semana em Dó maior sem nada disso, aqueles em que só se deseja, trabalhar, estudar, assistir a novela, ler um livro, e começar de novo outras coisas na segunda-feira que não são são as mesmas da última semana.

Questão de Ordem

E essa questão de mundo corrompido

vem de olhar pro próprio umbigo, 

uma vez e outra vez mais?


Qual o quê, já não sabes?

Hoje, é o frio de se pensar

pra onde ainda a vida pode vazar.


Oras, a começar, pra escrever

não restam idéias além das já escritas

e pra ocupar que outra Terra?


O pensamento da história que se quer esquecer,

conseguiu ser ocupado

pelas tropas da OTAN, e Bombas H a guarnecer.


Pode a realidade do papel

com os intentos malevolentes

das rainhas más das óperas financeiras

assombrando os light motifs patentes?


Se pode ou não, o essencial é atenção!

Não sentir mais nada, a receita é feita.

De hoje em diante toda respiração será cobrada.

Ficar permanente e só, eis a prescrição.


Movimento

Move-se a língua sobre a boca

a boca sobre a cara e a cara sobre o ar.

O ar sobre a Terra, a Terra sobre o Sol, o Sol 

sobre a galáxia.

A galáxia sobre as galáxias, as galáxias sobre o Cosmos.

O Cosmos sobre os cosmos, os cosmos sobre o tudo.

O tudo se move sobre palavras. Palavras que nem foram inventadas ainda. Num constante movimento, de poesia.

Uma Compôsita

Deixe lá que se mova perto de si o escadafalso. O escadafalso, exclamagurgitaram todos com ar descompressionante. E que lhe serotoronia este conceituactual?  Era apenas uma faltande pulmonalar. Brônquios, bronquíolos, alvéolos.

A Vida

A vida, esta causa perdida

queria se encontrar nas esquinas

das muheres da vida.

Encontrava-se com homens e mulheres voluptuosas

com formas arredondadas e chapéis de seda clássica.


Perguntou-se se não estaria

perdida entre aquelas mulheres perdidas

Não senhora, aqui sabemos tudo!

Endereço, cep, número de residência!

Bote aí no seu logradouro rua da Avaria.


Mas a vida esta causa perdida

Se insatisfez com as mulheres da vida

e partiu noite súbita, 

sem deixar lenço de adeus

Ou flores educadas, apenas a partida.


Andou por caminhos estreitos, escuros.

Chegou na avenida São João e viu Tom Jobim.

Que dizia pra ela:”deixe a vida te levar!”.

Insatisfeita a vida, causa perdida.

Seguiu para o interior, e lá... quem sabe... enfim.


No meio do caminho, viagem longa de ônibus

A rota das ruas se confundiu e a vida

Entrou nos viadutos errados 

Pra desembocar 

entre o Pinheiros e o Tietê, a chorar.


Mas um verso saudoso. 

Meloso de voz mansa e doce, a saudou

“não chore ainda não”

“que eu tenho uma razão”

“pra você não chorar”.


E a vida, descabelada se refez,

deixou o pranto e a lugubrez

e foi morar noutro lugar

onde se pudera notar

que a vida não é causa perdida.


Desde então com endereço fixo,

os pessimistas a debandar,

exigindo a volta da vida,

pras estradas da perdição

com as mulheres da vida, perdidas.


Mas foi ela pronunciar, um sim ou não

Vieram grupos, hordas, pedras na mão

Queremos que fique ali, aqui, acolá,

E ninguém pra fixar

Um lugar definitivo.


Desde este tempo a vida, escondida,

vive seu cantinho silente.

Passa gel no cabelo a noite,

Come maçãs de sobremesa no almoço.

E nunca esquece... de estar sempre... perdida.


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Die kleinen Kleinigkeiten

Der gestreift Pyjama.
Die Erdbeehrenschale.
Das neue Leitmotiv der Freiheit.

Die zarte Bewegung.
Das Erwachen, das den Mond sieht.
Das Geliebte in Vergangenheit geblieben.

Die fortsetzende Verwandlung.
Die vorbereitete Wirklichkeit.
Die Unmöglichkeit der beigefügten Glücklichkeit.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Tempo

Quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele 
soprando sulcos na pele soprando 
sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou
 meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda. 
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
e por falar em sexo quem anda me comendo 
é o tempo 
na verdade faz tempo mas eu escondia 
porque ele me pegava à força e por trás 
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo 
se você tem que me comer 
que seja com o meu consentimento 
e me olhando nos olhos...
Acho que ganhei o tempo 
de lá pra cá ele tem sido bom comigo 
dizem que ando até remoçando.


Viviane Móse.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Prayers for Bobby.

Bom... não deveria fazer propaganda. Mas é impossível, lamento. Este post, é sobre este filme, magnífico, sensível, que toca no "getting out of the closet" em famílias evangélicas. Baseado em uma história real, a de Bobby, um adolescente que se percebe gay numa cidade interiorana no meio dos EUA, numa família evangélica. A história sucede e obviamente não vou contar como as coisas se passam pra não estragar a surpresa de quem não viu, mas apenas comentar...
Que o discurso... no final... foi algo que me quebrou ao meio. Foi pra mim absolutamente massacrante. 

Depois de assisti-lo (há 2 meses mais ou menos), fiquei 3 dias em absoluta escuridão, estupefacto, sem saber que rumo tomar. Nem entendi ainda até hoje, porque fiquei tão chocado. 3 dias em que não conseguia pensar, fazer qualquer coisa, muito menos trabalhar.
Em um próximo tópico... transcrevo o discurso (para os que já viram o filme).

Aos que ainda não viram, pode-se baixar (legendado), por exemplo em

http://www.megaupload.com/?d=9ZY1SNQ6

Não acho que haja filme tão sensível e único, relacionado ao assunto...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Entender.

Se você sempre entender tudo... Se não tiver nenhuma pergunta. Nenhuma dúvida, objeção. Se tudo estiver claro em sua cabeça. Se você vê absolutamente  tudo e compreende completamente e não se pergunta.
Qual seria o sentido da vida então?

Uma Ferida Aberta.

Com o segundo movimento da sétima sinfonia de Beethoven, a ferida aberta.


É uma ferida aberta, sangrando, que fecha, que abre, e neste meio tempo aproveita pra sangrar, pra doer. Não há nada que eu possa fazer pra parar, e na verdade, o que observo é que ela não me é exclusiva. É de todos e todas. É o segundo movimento um contínuo que amassa, notas repetidas, repetidas, repetidas.


Muitas dores de amor poucos tiveram. Sim, isto quer dizer que o coração tá vivo, que pulsa sangue, e também quer dizer que toda vez que acontece,... Um pouquinho mais morremos (mais do que o que já se é permitido com a passagem das horas).


Mas oras, não há de ser nada, nós gays temos um lugar de honra nas decepções de amores, os não realizados. Virou até piada. “Como você reagiria se soubesse por acaso que, seu melhor amigo se apaixonou por você?”.


Se eu descontar todo o preconceito e as situações difíceis que eles geram pros gays. Se eu descontar a influência que isso tem nas decepções dos amores, se eu descontar um milhão de outras coisas como timidez, discrepância versus espalhafatoso, a situação fica difícil. Depois de todos estes descontos, a situação fica só difícil. Não somei ainda a juventude perdida, a puberdade massacrada, não somei a pressão da família, não somei muitas coisas, porque se somar isso ao invés de um texto, terei um volume bíblico pra competir com Moisés em falar sobre sociedade de época.


Ainda. É dito que a porcentagem de gays, muito provável, seja menor do que a de héteros. Ninguém tem números absolutos a respeito, embora se cogite entre 10% da população como gays. No Brasil, o último censo parece ter dado conta de 7% da população ser gay. Adendo: ou somos muito mais preconceituosos em relação ao resto do mundo (óbvio), ou somos “anormais” por ter quase 50% a menos de população gay (com qual das duas será que eu fico) (isto sobre este fake oficial, um número que não diz nada, e só o que pode é enganar).


Não importa o número real de gays. Entretanto, vamos fingir que ele é menor (o que acho provável).


Minimamente significa que as chances de um gay se dar bem em namoro, em relação a um hétero são menores. O que isto quer dizer?


Quer dizer que se daqui há 300 mil anos chegarmos a uma sociedade com bem menos preconceito do que essa de hoje, em que saibamos que 25% de pessoas sejam gays, 10% bi e 65% hétero, não é preciso ser o gênio das matemáticas pra ver que os héteros têm 2,6 vezes mais chances amorosas. Isto meus caros, neste mundo de daqui há 300 mil anos.


No mundo de hoje, ainda vamos botar uns ingredientes pra desbalancer pro nosso lado. Vamos botar que uma boa parte de gays não se aceita. Vamos botar que uma outra boa parte é discreta (nada contra, em absoluto!), outra boa parte não conta pra ninguém embora ativa, outros às escondidas.Outros saem por aí casando e pegando homens e/ou travestis. Outros matando.


Vamos acrescentar que os pais não querem ter filhos gays, e eventualmente afirmam e reafirmam que seus filhos não são gays sem o saberem (gravado na memória... a imagem da mãe, que foi ao colégio defender seu filho de 9 anos acusado de ser gay pelos colegas: ”meu filho não é gay, e mesmo que fosse (mas não é), isso é um desrespeito”... esta foi uma situação presenciada, descrita em primeira pessoa).

Vamos acrescentar que os adolescentes gays não serão gays em suas famílias (em sua maioria). Vamos acrescentar que a adolescência gay, o período em que se começa a namorar, não acontece (na maioria). Vamos acrescentar que o número de suicídios entre gays chega a ser 4 vezes maior nesta época. Vamos acrescentar que algumas (ou todas as) Igrejas, fazem cruzadas e campanhas de massa contra a homossexualidade, que está manipulando e sujando a NOSSA sociedade...


Vamos acrescentar no âmbito jurídico, esta discussão interessantíssima sobe adoção homossexual, que se cogita, pode influenciar as crianças à homossexualidade. Afinal, nós não queremos isso, queremos apenas que os pais sejam héteros e influenciem as crianças à heterossexualidade. Vamos acrescentar um JUIZ que declara publicamente que futebol é um jogo pra machos viris e os gays, se quiserem, que inventem sua própria comunidade (sim, obrigado, INFELIZMENTE, esses guetos já existem).


Acrescentemos um assassinato na praça da Sé de dois homens de mãos dadas. Um, dois, três. Quatro, cinco, seis. Cem...


Por último. A melhor de todas as coisas que podemos acrescentar a este jogo interessante que se sobrepõe ao direito homossexual, é que. Nós podemos espernerar. Gritar, fazer uma balbúrdia, organizar suicídio em massa, fazer paradas gays multi-coloridas. Podemos comprar pompons, glitter, lantejola, porpurina, sair de rosa na rua, Podemos fazer isso, ou tudo ao contrário. E nada, mas NADA vai tirar o preconceito da cabeça das pessoas, a não ser elas mesmas. O remate: nada nem ninguém pode fazer a pessoa refletir sobre o quanto o seu preconceito é danoso a si e aos outros, nem mesmo um bilhão de campanhas anti-preconceito-educativas-informativas....

Disse Einstein, “chegamos a um tempo nem que é muito mais fácil explodir um átomo do que um preconceito.” (parafraseado).


No final só o que sobra é o irrealizável. (A André Pitol).