sábado, 3 de outubro de 2015

História Curta

(Esteja a força desses poemas
na mesma altura da violência que o gerou
não estando a seu par,
esteja a lembrança para
um réstio duradouro de vida.
Que lute contra esta violência
que nos vai comendo por baixo
sem que a percebamos.)

Um estranho andar funesto
vai marchando, cortejo afora
preso em consciências nodosas.
a chuva acompanha pela rua.

Era já tarde quando passava
em ritual carro condolente,
o que ali ia não se pronunciava,
fluía o contínuo silente.

Não se soube quando
começou a vida a vazar
fora dos corpos terminando
a por completo os deixar.

Sucedeu quando, leu-se epitáfio,
a cidade ainda dormente
levantava findo o crepúsculo.
Uma agonia crescente.

Era crime de ódio
disse uma multidão alvoroçada.
Um olhar penetrou os jovens:
fez a cena revelada.

Não era ódio o motivo
de ardente estupor.
Sobre os corpos em alívio,
o crime era de amor.

De pouca memória dada

um pouco tempo que se 
para amar tiveram.
Dois jovens, nudez estirada.

Vão ali e aqui descansando
Esturricados balançando
No espaço corpóreo armado
espesso o pesar derramado.

Estranha a fruta da árvore

Sangue nas folhas, sangue na raiz,
sangue sobre tudo que se diz
corpos pretos sob a brisa e mais nada.

Dois são os jovens em silêncio
omitidos das páginas escritas
Juvenal diriam é o nome deste.
Aquele de nome Juvêncio.

Seriam outros seus nomes talvez,

real-nomes, nomes da vida
santificados seja o Vosso nome
venha a nós...uma história repetida

Corpos de presença absoluta
Deusa dos jornais de tanto amor,
morte e mesmo esplendorosas fotografias  
em vermelho tingido de ardor.

Não se ouviram sacerdotes
não se lhes prestam homenagens
não se lhes breve recitam
"homens honestos que foram".

Não se lhes prestaram honrarias
Não se lhes rendem bajulações
Apenas sozinho na rua fúnebre
o séquito do carro pingando seguia.

Uma hisória desimportante.

Espero. Espero. Espero. O dia em que ele virá. Virá feliz, muito feliz pra mim, ao meu encontro, espero a feliz vinda, com boca cheia me dizendo, "minha pequena borboleta, pequenina jovenzita, minha pequena, meu perfume de verbena..." me gritará ao chegar. Estou, respondo. Perfume de verbena, o nome que ele me chamava quando tava aqui... Há um grande tempo eu espero, uma longuíssimo tempo, mas não me pesa. Guarda o medo... Faço a espera com segurança.

Voltará, sim, diz comigo agora, diz, voltará. Sim voltará... Diga comigo.
Não me pesa esta grande espera, tenho cá grande esperança no coração, uma fé, ele volta. Espero o primeiro encontro,"Minha pequenina mulher, meu perfume de verbena..." me gritará preocupado, "estou", respondo.

Estou em minha cama, ligo a luz, ele vem hoje, sei que vem. Os trens chegam duas vezes ao dia, o que chega à noite eu já o escuto glin glin glon, sim ele está próximo... A noite, todas as suas tristes horas cada qual mais triste que a próxima, só uma delas feliz, a de sua chegada.

Alguém vem, alguém bate na porta, me chama pelo nome, corro esbaforida, sim, deve ser ele  que chegou, gekummen, gekummen, gekummen.

Vou ao seu encontro, ao seu encontro, estou ao seu encontro. O encontro. É o demônio das águas. Meu tudo, minha vida, cego de amor, corro ao teu encontro, me jogo no teu braço. Te beijo, te mordo te quero. Morro. Morro de maldição, amaldiçoado eu, amaldiçoado você, demônio das águas. Iechibaba a nos amaldiçoar, tu porque me deixou por outro, eu porque me sacrifiquei por ti, Iechibaba não nos libertará. Te beijar, te agarrar, te abraçar e morrer. Agradeço o encontro, agradeço esse momento, agradeço o amor, ter experimentado esse pequeno amor em tão pequeno tempo em tão pequeno espaço, tão por acaso. Esse amor que já se foi. Selo tudo com o sacrifício, encomendo sua alma a Deus, viro o demônio da morte das águas, a morte do amor.

Iechibaba me transformou. Sou uma Bludicha, demônio nas águas. Atormento os seres, tiro-lhes dessa ilusão de amor. Ensino-lhes que todo sacrifício é fútil, vão.