quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Chorarás. E ninguém ouvirá teu choro.

Trechos essenciais de Caio Fernando Abreu...

"Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem."
(Garopaba mon amour).

"Precisava inventar um dia inteiro ou dois, porque amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o quê."
(Morangos Mofados).

"Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas."
(Extremos da Paixão).

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'..."
(Metâmeros).

"Chovia. Chovia, chovia e eu ia por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre me perdia todo pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertado ao peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse um táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado de chuva, porque aí beberíamos o conhaque..."
(Além do Ponto).

"- Seria isso, então? Você só consegue dar quando não é solicitado, e quando pedem algo você foge em desespero. Como se tivesse medo de ficar mais pobre, medo de que se alcance seu centro e nesse centro exista alguma coisa que você não quer mostrar nem dar ou dividir. Contido, dissimulado, você esconde essa coisa, será assim?"
(Diálogo).

"Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia."
(Os Sobreviventes).

"No Século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é vera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos."
(Extremos da Paixão).

"É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será.
(...)
As palavras traem o que a gente sente.
(...)
Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. Eu, por exemplo. (...) Freqüentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento."
(Limite Branco).

"Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê?"
(Morangos Mofados).

"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim
(...)
Acabei me entristecendo com as coisas que escrevi. As verdades, porque as mentiras não entristecem."
(Limite Branco).

"Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."
(Pequenas Epifanias).

Mozart na esquina

Passeando nos delírios de inconscientes do coletivo, encontram-se numa esquina dum dia ensolarado, final de tarde, na baixada, Mozart e Godard...

"Messier Godard, as novas câmeras e roteiros do cinema vão livrar o mundo do inferno que o mundo vai ser?
Não sei Herr Amadeus, mas pra garantir, toma cá tua pastilha..."

Intelectualidade

Nem sei pra que se empiriquetar tanto com estas intelectualidades bobóides se tudo que a gente quer é te envolver nos cabelos, vou erguer-te em meus braços, pelo amor de Deus...

Delicado Essencial

Reconhecer que nos falta o delicado essencial é a coisa mais fundamental.
Reconhecer que o delicado essencial nos falta, só pode acontecer sem a fantasia de nos invertarmos diferentes para nos tragarmos melhor.
Tragamo-nos em geral como um cigarro. Gostoso, mas dá câncer.

Reconhecimento mesmo, qualquer um só pode passar no silêncio, em crise, no escuro, a noite, sozinho. Ou em desespero. Quem disse que a verdade não era senão fruto do medo da morte, nunca experimentou a ansiedade de "morrer sem morrer", ou estar morto, sem estar: aí está!
Deita fora diz a abelhinha dentro do ouvido...

Porque deitar fora? Porque, na verdade, ele não pode ser transmitido... é mudo... é surdo... é cego... não tem forma... porque dizer ele, é como dizer o que não existe. O que é que não existe?
Mas vamos um pouquinho mais nesta não-comunicabilidade, a que seria surda, cega, muda. Oras, a composição de todas as coisas, as boas e as menos-boas, as de caráter abstrato e as de caráter menos abstrato, as que são, as que acham que não são (pra não ser injusto, chamando seres de coisas, "os que são e os que acham que não são", também) chega a ser definida desta forma: incomunicável. São todas compostas disto. Disto o que?

Portanto há uma limitação intrínsica, não-dialética na coisa de definirmos as coisas. Afinal, tudo o que é dialético, humano, ou fora do humano, existe e portanto é superficial... já o que não existe...

O que não existe é essencial e não-dialético. Mas não é esse o delicado essencial. Se não existe, como seria delicado? Se pode definir um aspecto do que não existe? Ainda, muito anteriormente, se pode dialetizá-lo?

Creio que estas são algumas medidas, para a descoberta de que nos falta o sentido exato de todas as coisas...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vida Vidinha.

Cansado. Blog abandonado, tudo meio abandonado: viajando. Quando se viaja se abandona tudo. A linha, mochileiro na Europa: sem segurança de nada, hostel, hotel, conexões, línguas estranhas, ninguém fala inglês, alemão, italiano, espanhol, português. Conexões de trens infindáveis, greves de maquinistas, hotéis longes, sem água quente, quartos divididos com gente sem-noção, povo mal-educado. E ainda duas pessoas (queridíssimas, é bem verdade). Pra ser babá. Contabiliza em euros, em real, em florim, em coroas, o diabo. Contabiliza. Pega o mapa, leva pra cá, pra lá, traduz, pede comida, traduz museu, traduz mapa. Busca gente perdida na estação de metrô errada, discute. Paga o hotel, paga os ticketes, paga o restaurante. Compra isso, compra aquilo, descobre como se comunicar em tcheco, em húngaro, faz os sinais, uma palavra em italiano, uma em alemão, duas em inglês... o resto em línguas com mais que 3 acentos por palavras, tenta entender com sinais. E ainda: computadores e internet's pra que te quero, dividir, e combinar horários, fusos...

Com sorte em uma semana a vida normaliza.

Viajar, apesar de tudo é tão único...

domingo, 11 de outubro de 2009

A Felicidade, por Dalai Lama.

"Você e eu também fazemos parte da humanidade. Se 6 bilhões de pessoas são felizes, nós dois teremos o máximo de felicidade. Se 6 bilhões sofrem, nós dois sofremos".

"... e a felicidade é conseguida através da compaixão. A compaixão diminui o medo, sem medo nos comunicamos com mais facilidade, somos mais felizes".

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Prêmio Nobel da Paz

Pois é, aconteceu hoje, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos ganhou o prêmio nobel da paz. Não é novidade que existe uma mudança na política e nos interesses quando saiu o xerife (Bush) e entrou o democrata na presidência. Pelo menos eu acho que não seja. O quanto essa mudança é significativa, ou o quanto ela simplesmente "é", não é fácil definir.

Comentou Saramago em seu blog que um dos grandes intuitos de Obama, antes de se eleger, era garantir a seguridade da saúde para o número escandaloso de nada menos que 50 milhões de norte-americanos que não têm dinheiro para pagar um plano, no país onde o sistema foi corrompido na década de 50-60 com companhias e suas "grandes intenções" (o quanto isso é verdade, ?, para esta informação minha única fonte é o documentário de Michael Moore, "Sicko"). Bem, aí acontece o que já se sabe, que estas companhias e o seu "jogo de interesses" agem com todos os seus braços, a estender seus tentâculos e acabando por impedir que mudanças significativas aconteçam e alcancem o efeito que deveriam, no caso, que esta população às margens pudesse ter acesso a um sistema de saúde.
Claro que se estas mudanças se concretizassem estas tais "companhias" perderiam parte de seu espaço e poderiam ir à bancarrota. (Afinal, com um sistema de saúde público que eventualmente funcionasse, quem pagaria pra ter um privado a não ser a minoria "rica"). (Embora, seria possível uma convivência "pacífica" entre os grandes capitais, no meu entender, se não houvesse tanta intenção de poder, e de se manter a situação como está).

E quem é que acredita ainda que nós vivemos num sistema democrático? Governados por presidentes, por Lulas, por Berlusconis, por Obamas? Alguém ainda tem alguma dúvida de que snao realmente as grandes corporações capitais as que ensejam como o mercado deve seguir suas regras, pra gerir melhor os seus lucros?

No final das contas, se trata sempre de um jogo de poder político (Foucalt), para garantir que esta minoria de alguma forma conserve o que "por direito lhe pertence". Por direito lhe pertence, leia-se, o que lhe foi historicamente herdado, preservado e perpretado, com as variações pequenas. Mudam-se os ricos, mas não a riqueza. Os demais, os que de alguma maneira estão excluídos pelo cômputo histórico da participação no que quer que seja, num sistema de saúde decente, num acesso a cultura e Universidade, a lazer, cultura, alimentação adequada, estes continuarão às margens dos interesses dos que querem pra si apenas estes "privilégios" (diria Clarice Lispector, "Amor é quando é concedido participar um pouco mais").

E estas senhoras farão tudo o que for preciso, sempre, para manter este poder, disfarçadamente (ou nem tanto). Mesmo que consigamos identificar: cá estão todos os "culpados", ou em termos menos cristãos, cá estão todos os que agiram em prejuízo dos demais, bem, mesmo assim, mesmo que todas as pessoas fossem capazes de ver isto com clareza, não teríamos a solução para o problema.

A maior miséria mesmo, infelizmente, é a nossa de dentro...