domingo, 16 de setembro de 2012

Saudade

Já não se viam há tanto tempo,
e há tanto tempo que falavam só pela internet
que a saudade virou saudadwirless.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Definição

Nós... só nos definimos enquanto sujeitos, como o que somos pelo que os outros são. Nos definimos por contraste. A verdade é que sem os outros não somos nada. Sem nosso em torno não somos nem mera imaginação.

Um som baixinho

Ouve, ouve, ouve, ouve a loucura sussurrando baixinho, sussurrando baixinho no ouvido...  rompante. De existir, da loucura, como a existência inteira. Dizia baixinho-baixinho-baixinho no meu ouvido, abraça, abraça, abraça, abraça o me. Abraça o me e não tenhas medo, medo de te perder. Te perdes. Se dormes, dorme enquanto. Dorme e quando acordas não serás mais tu. Abraça o me, abraça.

Agora não sussurra mais, grita (ainda baixinho, porque sempre é baixinha a loucura). Grita e grita e grita e grita abraça o me, abraça, abraça, abraça, abraça. O me. Tanto faz que vai desaparecendo no horizonte ficando en ambience.

Caio Fernando esteve aqui

vestido de Calaf.
Temos grandes esperanças para nossas vidas. Fresquinhas direto do forno toda manhã. Caio Fernando esteve aqui, espírito já velhinho, trazia um discurso cruzado com a interferência da Turandot, dizendo mais ou menos assim:

"Nella cupa notte
vola un fantasma iridescente.
Sale e spiega l'ale
sulla nera infinita umanità.

Tutto il mondo l'invoca
e tutto il mondo l'implora
Ma il fantasma sparisce con l'aurora
Per rinascere nel cuore.

Ed ogni notte nasce
Ed ogni giorno muore."

Chi è straniero?

Caio Fernando olha pra Calaf e prenota negativamente: Não tenha esperança meu caro! Não há sangue ou Turandot neste mundo que valha o mistério de te atirares sem vida no pescoço de outrem.

(Escrito diretamente das cartas fúnebres de Caio Fernando em resposta a suas cartas otimistas de amor romântico "vai acontecer, meu caro, vai acontecer, eu sinto que acontecerá").

Não aconteceu.

Beleza

Há uma beleza natural de acontecimento dos eventos. Beleza natural é os eventos acontecendo. O amor entre os desescolhidos-de-beleza-social, o gozo todinho deles é  beleza natural: acontecimento das coisas, sucessão. Ali estão todos os cidadãos. Todos. Não se escapa nenhum. Deste gozo comum é onde a beleza emerge, e emerge de todos os gozos, por serem em si comuns. A beleza natural do acontecimento deve ser quase uma vertente termodinâmica. Um fluxo entrópico.

Há uma beleza plástica... uma beleza vendida nas embalagens da margarina feliz. Uma beleza: loira alta magra. Uma beleza robusto, peitoral, forte, pernas torneadas, bronze, cabelos lisos, caídos. Uma beleza simetria de rosto toda definida. Com barba, sem barba. Uma beleza na contra-corrente de fluxos e aforismas. Uma beleza temerosa, uma beleza que só se concretiza como auto de fé. Uma beleza cuja realização é em concretude a negação da vida.

Há outras belezas plásticas. Também na capa das margarinas felizes. Contrárias àquelas, mas ainda assim plásticas.

Há várias belezas plásticas. As belezas plásticas existem apenas como imaginários.

E há aquelas belezas reais. Do cotidiano. Cheias de vincos. Com marcas. Não envoltas em polietileno. Aquelas belezas sujeitas ao apodrecimento. Que levam menos de centenas de anos pra se desfazerem. Que se reciclam. Aquelas que o imaginário alcança de outra maneira.

Há duas belezas em constante luta. Uma tentando tomar o espaço de outra.

Escrita

A escrita é sagrada. Está pouquinho aquém do nascimento do mundo, do Universo. Portanto fica. Mesmo com a morte de Brünnhilde, o Walhalla se consumindo em fogo e as águas do Reno submergindo o mundo, a escrita perdura.

É, digamos, a coisa mais dura de se combater. Entre as transitoriedades, a mais intransitória.