segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Militância Gay

Militância gay é, vejam que engraçado: ó, perdi minha família.

Militância gay é, fidelidade ao que se pode ser fiel, sem nunca ser traído que é a verdade de dentro, a que não atravessa nem volta, não sai nem entra, apenas está.

Militância gay é, eu não pertenço a nenhum destes lugares, a nenhum destes nichos, a nenhuma destas pessoas, a nenhuma destas situações, não sou com ou sem soda, não sou satisfação em revê-lo, não sou vestidos em ternos, nem marcha pela família com Deus e a liberdade. É um olhar e apenas um olhar no meio da multidão: desculpe, você não pode entender...

Militância gay é, muitos "mas não conte a ninguém que você é gay", muitos não ter palavras pra conversar sobre eu-gay, muitos, esqueça, ele ou ela não vão nunca entender, porque nunca poderão sentir o que eu sinto, sentir como eu sinto, não poderão entrar por dentro de mim, pra ver o que me vai ali. É na verdade tantas vezes que você vai ter que levar isto na cara, espinhosamente, vai levar, ficar sem respirar, vai levar engolir seco.

Militância gay é aceitar o preconceito, aceitar a humilhação de peito aberto, não porque seja gostoso apanhar e sofrer, mas só e tão somente pra não se enganar com "o preconceito não existe", com "mas o mundo está bem melhor", com "mas aqui não tem tanto preconceito", com
"eu não tenho preconceito". Por que além está mais preconceito, aquele que vem além da palavra. E que não se leia errado o aceitar dum preconceito e humilhação, gostar de e achar que tudo está bem, mas aceitar que isto vai acontecer, porque está além do nosso controle.

Militância gay, muito mais do que uma parada, exige a parada da vontade de permanecer dentro de uma casa que pega fogo porque lá fora afinal está chovendo...a parada de um coração que se nega a si mesmo. É um último suspiro em desistir do mundo, em desistir da realidade, que te diz unicamente pra você desistir de você.

Militância gay é, vejam que direto, uma faca no peito: desistir da família. E desistir da família dói...


Militância gay é, vejam que notório, tomar que quase todas as religiões, as que deveriam ajudar o homem no sagrado, as que deveriam lhe revelar a alma, e os caminhos até ela, (não importando se de fato ela existe), negam o acesso aos gays, lhes dizem, vocês foram exilados pra sempre das terras do sagrado.

Militância gay, só acontece em nível intracelular, intranuclear, quando os genes se enveredam e se abraçam amorosamente soprando pra você como agir e você não nega isso.

Militância gay é, vejam novamente que engraçado, a percepção de que você sempre tem que lutar pra ser aceito, como se tivesse vindo ao mundo com 6 cromossomos a menos. É a percepção de que, de dentro pra fora, você É SEMPRE menos, não importa o que faça...Mas que fique claro, você não é menos de dentro pra fora, mas de fora pra dentro...

Sejamos sinceros... estar engajado em uma militância gay exige muito mais do que ter um cabelo multi-colorido, do que dançar e rebolar travestido e do que vestir uma bandeira de arco-íris.

Exige não negar a sua realidade que é violentada a todo momento trocando-a por um sorriso gostoso, trocando-a por um gosto muito de você, trocando-a por um mas eu não tenho preconceito, trocando-a por a família é mais importante ou ainda, (quisera, Deus nunca tivesse inventado essa frase), mas você nem parece viado.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mais.

A loucura mais doente: Lucia e Lady Macbeth.

A mais ensandecida: Rainha da Noite.

A vilã mais digna: Amnéris.

O corno mais nobre: Rei Marke.

A morte mais nobre: Gilda.
A mais escandalosa: Violetta.
A mais transtornada: Isolda.
A vilã mais soberana: Turandot.
A morte mais dolorosa: Liú.
O mais beberrão: Duque de Mântua.

O mais fofo: Papageno.

Nasci para ser torturtada: Tosca.
O pegador: Don Giovanni.
A mais perigosa: Carmen.
Finalmente um casal gay: Lulu.
O mais Sandy: Tamino.
O desengano mais doloroso: Madame Butterfly.
O mais tonto: Mustafá.

Macabea

E passava o dia todo fazendo cara de não tenho cara de nada, pra ninguém desconfiar as coisas que pensava.

Paixão

A pré-disposição da paixão é o suicídio ou a loucura. Se ela não acabar assim, nunca vai se consumar. Paixão que se transformou pra outro caminho, não mudou, fugiu...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Alltag

Wer bin ich zur Zeit,
Ich weiß es wirklich nicht genau.
Trotzdem komm schnell beiseite,
erzahl was führt das Herz so grau...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Aída em Stuttgart

Final de semana conturbado com Aída em Stuttgart.(Há um mês).

Entre camarotes e penduricalhos pra casacos, nos sentamos pra assistir uma montagem modernosa, da ópera, pra mim, a mais magnífica de Verdi.


Nunca tive boa impressão de óperas modernosas, porque as poucas que assisti em Mannheim não foram muito interessantes. Vi uma montagem de Traviata sofrível, até com algumas idéias interessantes no palco, mas a impressão era "o palco está vazio porque não temos nada pra dizer..."

Uma coisa semelhante com a Bohème, a Flauta Mágica e outras.


Depois de apagadas as luzes começa um frio na barriga: o que será agora... expectativa e medo. E começa a ópera: UM CHOQUE. No primeiro ato, os escravos, não eram os do figurino habitual: maquiagem escura e farrapos pra vestir. Os escravos estavam pois em posição de quatro, como poltronas! Depois de milhões de montagens tradicionais, parece que chega uma, te chacoalha, te esbofeteia, te diz: peraí, você não tá entendendo, eles são escravos. Isso mesmo, ES-CRA-VOS...


É a diferença entre assistir um Pasollini, "I 120 giorni di Sodoma" como ambientado no encrave nazista, e assistir um "The Schindler's List". Minha impressão de que quando se contam estórias e fatos de povos "desafortunados" historicamente (pra ser bem suave, no predicativo), tendemos ao sentimentalismo exagerado, que dissipa termodinamicamente o efeito histórico. Qual é o efeito histórico, é o de dizer: foi assim, não se pode esquecer. E me parece que mais do que A lista de Schindler, a idéia clara é a do filme do Pasolini. É impossível nele 1) se colocar como superior à situação (coisa que inadvertidamente acontece no outro caso), 2) saber que há certo e errado (o que de fato não há), 3) tirar algum sentimento bom do filme: ai que gostoso, os malzinhos, ó como foram malvados, e olha os bonzinhos ali! Agora sabemos o que fazer com os malzinhos e com os bonzinhos, então tá tudo bem! (...)


Neste sentido, CLARAMENTE, o filme de Pasolini é uma representação da realidade (muito mais que o outro). Mas não era este o assunto.


O assunto era o choque de ver os escravos: são poltronas, onde os generais egípcios e o povo se sentam. Eram poltronas...

Bom, aí vem Radamés canta o Celeste Aída, declara seu amor eterno à escrava etíope, lindamente, cantam Radamés, Aída e Amnéris, e entra o rei e o povo.


Quando pela primeira vez do tema "Su del Nilo al sacro Lido", o segundo choque. O povo egípcio jurando "lealdade" com uma saudação qualquer coisa parecida com a nazista, mas com mão fechada! (lembrando que a saudação nazista é proibida na Alemanha).


O tema grandioso fecha com o "Ritorna Vincitor" de Amnéris e do povo. Depois que Aída canta a ária do "destino funesto" que caía sobre ela

(i sacri nomi di padri, d'amante

né profferir poss'io, ne ricordar;

(...)

Numi pietà del mio soffrir), entram em cena as sacerdotisas, o que desta vez foi um deleite musical... projeções lindas de cerimônias "religiosas" com elas e Radamés (a religião tinha um certo apelo ao sexo, mas não puramente ao sexo, ao sexo como parte sagrada). Sincronia e afinação entre orquestra, sacerdotes: perfeitas...


Finalmente na última cena do primeiro ato, mais um tapa na cara: Radamés era carregado e saudado por todos e conclamado como herói, como o "objeto" da lealdade do Egito. Todos estavam e pensavam com ele, a religião inclusive, "Numi, custode e vindice." E a representação máxima disso foi a cena do trono sendo carregado enquanto era saudado pelo povo com o semi-gesto nazista: dinheiro era colado sobre o uniforme... Qualquer apologia à nossa situação seria mera coincidência.


Então no segundo ato, o duelo entre Aída e Amnéris. Não sei o que era mais lindo. Cantavam as escravas. A roupa delas: um vestido branco desses de comerciais de margarina feliz, onde eram projetados tanques de guerra invadindo (onde - ?). Entre elas, Aída é incitada a falar sobre o amor por Radamés, pra Amnéris, pela própria. Uma das cenas mais cínicas da história da ópera, (Povera Aida, (...) Io son l'amica tua... Tutto da me tu avrai, vivrai felice!(...) Ben ti compiango!). E um duelo de vozes potentes. Bem ao estilo verdiano, com melodias lindíssimas, cheio de nuances e provações.


Finalmente Aída confessa o amor por Radamés... pra ser imediatamente humilhada por Amnéris (qualquer semelhança com novela mexicana será mera coincidência rs*):

"Pieta ti prenda del mio dolor.

È vero, io l'amo d'immenso amor.

Tu sei felice, tu sei possente,

io vivo solo per questo amor!"

Resposta de Amnéris:

TREMA VIL SCHIAVA!


Este trecho é um dos duetos mais lindos de toda história da ópera. E sem dúvida uma novela mexicana...


No final do segundo ato, estão as marchas e as glórias ao Egito e à Ísis. Mais um choque: as escravas têm o figurino: uma saia verda limão parecendo garota propaganda de refrigerante, e um boné escrito: Egito.


Isto foi um estupro... Apologia clara e manifesta: culturalização de povos dominados... Exemplos do que se passa conosco, e eu quase caí no chão vendo as "egitetes" dançando glória ao Egito, glória à Isis, glória a Radamés. Queria me jogar no palco e espancar todo mundo... Queria gritar, dizer me tirem daqui, queria, queria, queria, mas continuei assistindo, do camarote...


E assim, com o estômago revoltoso, tivemos um intervalo pra recuperar o fôlego.

A volta com o início do terceiro ato, Aída canta sua ária linda, "qui Radames verrà, che vorrà dirmi", seguida pelo dueto com seu pai rei dos etíopes, Amonasro.


Que coisa mais linda é este dueto...nem sei o que escrever sobre ele. O final, é o piano mais lindo da ópera,

"-Pensa che un popolo vinto straziato,

Per te soltanto risorger puó...

-O patria, o patria, quanto mi costi!"

E neste costi, seguido de "o patria, quanto mi costi", foi uma choradeira...

"Coraggio! Ei giunge, là tutto udrò."


Entra Radamés que acaba por falar a Aída sobre o exército egípcio: ouvido por Amonasro, "atrás dos panos".

"Tu Amonasro, tu il Re

(...) io son disonorato, per te tradi la patria, tradi la patria!"

E haja novela mexicana.


No fim do ato, Radamés se entrega aos sacerdotes que o julgarão.


O quarto e último ato é o absurdo musical... é o fechamento da ópera é, parece que a hora de Amnéris dizer: ESTA ÓPERA É MINHA! Logo no começo vem o duelo entre ela e Radamés,

"Già i sacerdoti adunansi", seguido pelo julgamento deste. Amnéris acaba dizendo que a desgraça de um coração despedaçado irá jorrar o sangue sobre os sacerdortes que o julgaram culpado... E haja coração (o meu), pra agüentar Amnéris duelando (duelando leia-se: quem grita mais!) com os sacerdotes e Ramfis (o chefão), gritando desesperada seu amor por Radamés, e uma tempestade na orquestra...

"L'anatema d'un core straziato

Col suo sangue su te ricadrà..."


Esta cena do quarto ato é a minha preferida. Absurdamente pesada, dramática e beirando quase à loucura:"Empia razza, anatema su voi!" grita Amnéris amaldiçoando os sacerdotes... Musicalmente NUNCA vi um espetáculo mais bonito... passei quase a cena inteira arrepiado! Um zilhão de orgasmos múltiplos. A mezzo que cantou em Stuttgart, quando abria a boca tremia o teatro todo. A voz dela encobria coro, orquestra, público, encobria o que tivesse na frente! Uma mezzo grega de nome Chariklia Mavropoulou. Bem à medida da ópera. Como disse antes, a impressão final, do quarto ato é de que a mezzo sai da partitura e diz: desculpem, mas esta ópera é SÓ minha!


O desfecho, a última cena do ato é o enterro de Radamés vivo, e Aída que aparece lá pra dar oi (cf. morrer junto). Afffeeeee Maria...Ser enterrada junto na tumba de Radamés ninguém merece...


De novo a montagem da cena me fez tremer nas bases.

Os escravos como poltronas sendo projetados, em filme, no fundo. No fundo. No fundo, a guerra e os escravos iriam pois estar ainda lá, na tumba de Radamés e Aída.


E assim foi Aída em Stuttgart. Um estupro artístico do início ao fim... Um espetáculo que tenho certeza nunca vou ver coisa semelhante.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

In Meine Liebe

Ein Leid überträgt die Schönheit.
Nichts kann schöner als sie sein.
Wie die unsichtbareste Abwesenheit
abgeschnietten und bestreut mit Zeit.

Ganz faul verbringt sich die Zeit
lebendig geht plötzlich weiter an
leckt die Gegenwarts und weint
was sie nicht sich werden kann.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Céu.

Se para ir para o céu eu tenho que negar que sou gay, e admitir que nasci amaldiçoado que sou o único entre os seres que não fui feito pro sexo, que tudo em mim de natureza sexual é safadeza, que o meu instinto e possibilidade de amor, são unicamente a malevolência, se para ir para este céu, tudo isto, a pergunta que coloco pra mim, é porque as pessoas querem ir pra este céu.
Que céu é este. Este céu, seja bom ou seja ruim, de Jesus, Deus, Buda ou Zoroastro, neste céu é definitivo que não há espaço pra mim. Se as pessoas se sentem bem em achar que este céu que premia só os seus "iguais", por medo, preconceito, modismo, por quererem se colocar acima de mim (eu pobre e pária entre os escolhidos), ou por outra razão que se queira, não importa aqui o nome da coisa, mas a coisa em si, se elas simplesmente acham que eu sou merecedor do sofrimento porque nasci errado (ou me tornei errado), porque afinal estas pessoas vivem? Querem por certo concretizar a superioridade de sua raça, arianíssima. Querem concretizar a superioridade de seus 50 cromossomos sobre meus pobres e errantes 46.

Neste e em outros mundos não há lugar pra nós. Pra mim e pros outros milhares, milhões, bilhões de gays (sim, é certo que somos bilhões).

Amor ou, resposta a Camões.

"Amor é fogo que arde sem se ver,
e ferida que dói e não se sente,
e um contentamento descontente,
dor que desatina sem doer.”

"Ah, Camões! Se vivesses hoje em dia,
Tomavas uns antipiréticos,
E Prozac pra a depressão.
Compravas um computador,
Consultavas a internet
E descobririas que
Essas dores que sentias
Esses calores que te abrasavam,
Essas mudanças de humor repentinas,
Esses desatinos sem nexo
Nao eram feridas de amor,
Mas somente falta de sexo.”

Autor desconhecido (por mim).

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sobre a Realidade

Desde o começo, quando a consciência das coisas começou a se estabelecer pra mim, e os fatos começaram a se dividir em consciente e inconsciente, senti que tinha poucas opções. Eu podia tentar entender as coisas, a vida e o Universo com as cantoras de ópera, com as heroínas de Turandot, de Aída, Tristão & Isolda. Podia tentar entender como um reflexo da obra de Clarice, de Saramago, de Caio Fernando Abreu. Não é um reflexo linear com regras e postulados bem-estabelecidos. É uma interpretação, diferentemente, e que nem sempre se pode colocar no âmbito racional. Afinal, uma sinfonia de Beethoven é uma sinfonia de Beethoven, e não um conjunto de notas feitas dentro de um contexto, com explicações e análises harmônicas. Estas análises póstumas não podem explicar o que significa escutar a sétima sinfonia, ou a terceira, não podem dizer porque é que fico completamente arrepiado, porque me sinto como os metais encerrando "lindo" o primeiro movimento, ou as cordas logo após, no começo do segundo, com o tema absurdamente lindo e triste (absurdamente lindo quer dizer que não pode ser colocado em palavras). Como eu disse o reflexo da obra de Clarice, de Caio, de Saramago. Ou de Beethoven, Mozart, Chopin. De Brahms, Rachmaninoff, Ravel, Verdi, Puccini, Villa-Lobos.
É uma maneira e pra mim a única de interpretar a vida. Esta seria a primeira opção e a que tomei.

Outra opção seria negar minha realidade, tudo que acontece comigo, negar meus sentimentos, minhas desgraças, minhas felicidades, negar tudo, fingir que isso não faz parte de mim, e seguir completamente na hipocrisia. Esta também é uma interpretação possível. Negar Salvador-Dalí.

Fora disto, a outra possibilidade seria a de morrer. Sempre é possível morrer (mais cedo?, morrer mais cedo, faz sentido?), como forma de silenciar o seu não entendimento pela sua vida (o exagero de pronomes possessivos se justifica). Não é uma questão profunda nem megalômana, como qual o sentido da vida, é íntimo e pessoal, qual o sentido da minha vida. A morte é o silêncio pra esta pergunta, afinal. (Qual o sentido da minha vida? morreu.)

Mas "o sentido da minha vida" como posto, se torna uma armadilha. Por várias razões... Se perguntamos por um sentido racional, caímos da esfera onde se poderia explicar alguma coisa (arte) pra esfera onde não se pode explicar nada (quase nada) acerca disso (ciência). Entretanto, sem o sentido racional, a pergunta se armadilha: ficamos novamente com uma interpretação e não com uma resposta.
E o sentido racional cai numa espécie de incompletude de Gödel. Pois, se o sentido da vida que "me pertence" (ma non troppo) é o que eu soubesse ser, eu perguntaria indubitável, mas é isso?

Bom, não posso buscar um sentido. Não pra mim. Eu desconfio que isso seja verdade pra todo mundo, mas não creio que se chegue ao cerne desta questão.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Johann und Marie

Johann
war immer Johann
Marie
war immer Marie
Einmal kam die Liebe an
Johann wurde
Johann und Marie
Marie wurde
Marie und Johann
Und Heute
wissen sie nicht
was mit dem 'und'.

(bei Bruno Franzon).

Oh, Wirklich?

Lebenden, umbringenden, umgebrachten Dingen braucht man um die Wirklichkeit festzustellen.
Sehr fest kann es aber nicht klappen.
Dann wird Gegenwart gemacht: die Zeit zwischen Vergangenheit (die nur mit Erinnerung und Geschriebene vorgestellt sein kann) und Zukunft (die wirklich nie existieren wird: Zukunft wie ein Spracheproblem wird immer werden sein).
Wie bemerkt, Gegenwart die deftig, gegenwärtig, und stabil sein musste, ist nicht mehr als eine Grenze zwischen das nicht existierende und das Gedächnis.
So geschiet es: sie trägt die Irrealität (oder die Leichtigkeit von Fakten) als Realität.
Gibt es irreführender Eigentum?

Sonho

Nesta noite teve um sonho. Sonhou ver no longe, umas colinas, a palavra afeminado brilhando, mas escrita com grafia errada, "ademinado"... na última letra tinha uma lança que empalava, e parecia dançar, se rindo, com o vento. Depois, no meio do sonho, aparecia uma música meio funesta, uma música meio em dó menor, e quase micro-tonal, que ia subindo, dó, ré meio baixo, mi bemol, fá e já aqui juntava uma sétima justa no fá sustenido, e parecia então que lhe tinham furado o abdomen, chegando no estômago, mas logo passava, chegava o sol, como se pedisse: POR FAVOR...

Parecia um Golem dando passos pesarosos indo em direção a cidade, em direção a cidade pra matar todo mundo, mas no meio do caminho o Golem desata a chorar.
Depois da choradeira, o Golem continuava, tinha umas batidas de garfos nos cristas, mas ele continuava, e andava, ia perdendo as pernas no meio do caminho, e cada passo que dava era mais leve que o anterior, já então era um dó, mi natural, fá e nessa altura já era se apoiar com as mãos no chão pedindo ajuda dos que olhavam mudos pra ele, amuados e com cara não estamos entendendo nada, então vinha o sol da redenção, e logo então dó e sol, e o Golem finalmente cai com a batida do último dó...

Daí tudo ficava brilhante depois no apareciam mulheres zanzareteando, no meio de uma festa. E tinha um pau de sebo, mas todo em vermelho de onde desciam tecidos, e bandeiras que se estendiam até perder de vista. As pessoas riam, riam, e festejavam, e ele não entendia muito bem, andava meio que atordoado pela multidão rindo-se, no fundo as letras ademinado começaram a cair formando um adem e o niado pendido e em ordem inversa, mas nem se percebia o detalhe e foi o pânico geral, porque eram os asteróides chegando para festejar o fim-do-mundo.

E foi o parque se esvaziando, de gritarias, daí pareceu encontrar uma presença familiar, era seu irmão, mas ali vestido de outra pessoa, que ele nunca tinha visto, não sabia como era seu irmão com uma aparência tão diferente, usava um daqueles macacães de jeans sobre uma peça embaixo, e o irmão olha pra ele, apiedado, e diz, segura, segura aqui, e vai ter que continuar, é nessa hora, que ele sente uma claridade imensa e um estrondo, parecia que lhe tinham explodido o corpo com mil rajadas, mas não doía. Olhava e não entendia como era estar morto, mas continuar a mesma coisa de antes, como podia ser isso. De susto, acordava.

E seguia pro trabalho de revisor geral dos registros.

Configuração do Real.

É a vida cedendo, ou a morte empurrando?
Distante, linha tênue de separação.
Vai longe, claudicando quase um não-sou.
No espaço se biparte: um pra cá um pra lá.
Na retina é horizonte das causas perdidas,
fluxo unidirecional, contínuo.



domingo, 1 de novembro de 2009

Mozart, Mozart, Mozart.

Um textinho, palavrinhas, escritinhados, algumas coisinhas com a valsa da dor do Villa-Lobos. (Uma folga pros ouvidos de tanto Mozart). Ando escutando tanto Mozart ultimamente que a Rainha da noite tá me fazendo os olhos variarem com os agudos.

Nem há como relacionar o que me surpreende mais em Mozart e o que eu acho mais lindo... Mais lindo, eis uma locução inútil pra falar de Mozart, acho que tudo é mais lindo. Como se faz pra dizer qual dos 27 concertos é o mais lindo?

Bom, ultimamente tenho ouvido os últimos 8 concertos (do 20 ao 27), que parecem a primeira vista, ser o lado mais maduro do Mozart. Mas isto de madureza musical com a idade avançada nem sempre é verdade, e pra mim, este senhor é um bom exemplo disso. Afinal, há mais a dizer do que o Concerto 9? O primeiro movimento absurdamente lindo, seguido pelo MONUMENTAL segundo movimento em menor (ver motivos chopinianos). E ele tinha 21 anos, quando compôs isto...
(Li uma vez que na verdade este é o primeiro concerto dele, de facto, por exemplo os quatro primeiros são como "variações para piano e orquestra" de temas de outros compositores).

De qualquer jeito, por motivos Chopinianos (motivos chopinianos?), os que mais mexiam comigo até eu enlouquecer na fase Mozartiana eram os de tonalidade menor (20-24).
Foi só até eu escutar as gravações do 25, e do 27...

Dos populares então (21-23), nem há o que se falar, acho que nunca se fez na história da música coisa tão linda quanto o segundo movimento do 21... Segundo movimento em Mozart significa: as coisas mais lindas que se pode ouvir - e aqui está aquela locução que eu dizia que não fazi sentido usar ... (não esquecer do 22 em Dó menor... eu ainda acho que foi dali que o Beethoven tirou aquele segundo movimento ABSURDO da Heróica).

E se isto não for suficiente, tem as Sonatas pra piano, destas infelizmente ouvi pouco ainda (tenho na cabeça só 4...). Os Trios... maravilhosos. As Sinfonias, são apenas 50 em número... e conheço só 25-38-39-40-41...

Se eu entrar pra falar de óperas... meu Deus. (Vejam por exemplo aqueles absurdos wagnerianos, que os cantores não conseguem respirar, são em muito diferentes dos absurdos mozartianos, com respirações precisas... veja-se também o fantasma do Don Giovani aparecendo no concerto 20...).

Acho que já deu pra perceber que eu tenho uma "quedinha" por Mozart... nunca tinha reparado isso, mas talvez mais do que qualquer outro compositor (até mesmo Bach).

Só Mozart salva...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Chorarás. E ninguém ouvirá teu choro.

Trechos essenciais de Caio Fernando Abreu...

"Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem."
(Garopaba mon amour).

"Precisava inventar um dia inteiro ou dois, porque amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o quê."
(Morangos Mofados).

"Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas."
(Extremos da Paixão).

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'..."
(Metâmeros).

"Chovia. Chovia, chovia e eu ia por dentro da chuva ao encontro dele, sem guarda-chuva nem nada, eu sempre me perdia todo pelos bares, só levava uma garrafa de conhaque barato apertado ao peito, parece falso dito desse jeito, mas bem assim eu ia pelo meio da chuva, uma garrafa de conhaque na mão e um maço de cigarros molhados no bolso. Teve uma hora que eu podia ter tomado um táxi, mas não era muito longe, e se eu tomasse um táxi não poderia comprar cigarros nem conhaque, e eu pensei com força então que seria melhor chegar molhado de chuva, porque aí beberíamos o conhaque..."
(Além do Ponto).

"- Seria isso, então? Você só consegue dar quando não é solicitado, e quando pedem algo você foge em desespero. Como se tivesse medo de ficar mais pobre, medo de que se alcance seu centro e nesse centro exista alguma coisa que você não quer mostrar nem dar ou dividir. Contido, dissimulado, você esconde essa coisa, será assim?"
(Diálogo).

"Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais auto destrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia."
(Os Sobreviventes).

"No Século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é vera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos."
(Extremos da Paixão).

"É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será.
(...)
As palavras traem o que a gente sente.
(...)
Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. Eu, por exemplo. (...) Freqüentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento."
(Limite Branco).

"Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê?"
(Morangos Mofados).

"Não sei como me defender dessa ternura que cresce escondido e, de repente, salta para fora de mim, querendo atingir todo mundo. Tão inesperada quanto a vontade de ferir, e com o mesmo ímpeto, a mesma densidade. Mas é mais frustrante. Sempre encontro a quem magoar com uma palavra ou um gesto. Mas nunca alguém que eu possa acariciar os cabelos, apertar a mão ou deitar a cabeça no ombro. Sempre o mesmo círculo vicioso: da solidão nasce a ternura, da ternura frustrada a agressão, e da agressividade torna a surgir a solidão. Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim
(...)
Acabei me entristecendo com as coisas que escrevi. As verdades, porque as mentiras não entristecem."
(Limite Branco).

"Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo."
(Pequenas Epifanias).

Mozart na esquina

Passeando nos delírios de inconscientes do coletivo, encontram-se numa esquina dum dia ensolarado, final de tarde, na baixada, Mozart e Godard...

"Messier Godard, as novas câmeras e roteiros do cinema vão livrar o mundo do inferno que o mundo vai ser?
Não sei Herr Amadeus, mas pra garantir, toma cá tua pastilha..."

Intelectualidade

Nem sei pra que se empiriquetar tanto com estas intelectualidades bobóides se tudo que a gente quer é te envolver nos cabelos, vou erguer-te em meus braços, pelo amor de Deus...

Delicado Essencial

Reconhecer que nos falta o delicado essencial é a coisa mais fundamental.
Reconhecer que o delicado essencial nos falta, só pode acontecer sem a fantasia de nos invertarmos diferentes para nos tragarmos melhor.
Tragamo-nos em geral como um cigarro. Gostoso, mas dá câncer.

Reconhecimento mesmo, qualquer um só pode passar no silêncio, em crise, no escuro, a noite, sozinho. Ou em desespero. Quem disse que a verdade não era senão fruto do medo da morte, nunca experimentou a ansiedade de "morrer sem morrer", ou estar morto, sem estar: aí está!
Deita fora diz a abelhinha dentro do ouvido...

Porque deitar fora? Porque, na verdade, ele não pode ser transmitido... é mudo... é surdo... é cego... não tem forma... porque dizer ele, é como dizer o que não existe. O que é que não existe?
Mas vamos um pouquinho mais nesta não-comunicabilidade, a que seria surda, cega, muda. Oras, a composição de todas as coisas, as boas e as menos-boas, as de caráter abstrato e as de caráter menos abstrato, as que são, as que acham que não são (pra não ser injusto, chamando seres de coisas, "os que são e os que acham que não são", também) chega a ser definida desta forma: incomunicável. São todas compostas disto. Disto o que?

Portanto há uma limitação intrínsica, não-dialética na coisa de definirmos as coisas. Afinal, tudo o que é dialético, humano, ou fora do humano, existe e portanto é superficial... já o que não existe...

O que não existe é essencial e não-dialético. Mas não é esse o delicado essencial. Se não existe, como seria delicado? Se pode definir um aspecto do que não existe? Ainda, muito anteriormente, se pode dialetizá-lo?

Creio que estas são algumas medidas, para a descoberta de que nos falta o sentido exato de todas as coisas...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vida Vidinha.

Cansado. Blog abandonado, tudo meio abandonado: viajando. Quando se viaja se abandona tudo. A linha, mochileiro na Europa: sem segurança de nada, hostel, hotel, conexões, línguas estranhas, ninguém fala inglês, alemão, italiano, espanhol, português. Conexões de trens infindáveis, greves de maquinistas, hotéis longes, sem água quente, quartos divididos com gente sem-noção, povo mal-educado. E ainda duas pessoas (queridíssimas, é bem verdade). Pra ser babá. Contabiliza em euros, em real, em florim, em coroas, o diabo. Contabiliza. Pega o mapa, leva pra cá, pra lá, traduz, pede comida, traduz museu, traduz mapa. Busca gente perdida na estação de metrô errada, discute. Paga o hotel, paga os ticketes, paga o restaurante. Compra isso, compra aquilo, descobre como se comunicar em tcheco, em húngaro, faz os sinais, uma palavra em italiano, uma em alemão, duas em inglês... o resto em línguas com mais que 3 acentos por palavras, tenta entender com sinais. E ainda: computadores e internet's pra que te quero, dividir, e combinar horários, fusos...

Com sorte em uma semana a vida normaliza.

Viajar, apesar de tudo é tão único...

domingo, 11 de outubro de 2009

A Felicidade, por Dalai Lama.

"Você e eu também fazemos parte da humanidade. Se 6 bilhões de pessoas são felizes, nós dois teremos o máximo de felicidade. Se 6 bilhões sofrem, nós dois sofremos".

"... e a felicidade é conseguida através da compaixão. A compaixão diminui o medo, sem medo nos comunicamos com mais facilidade, somos mais felizes".

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Prêmio Nobel da Paz

Pois é, aconteceu hoje, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos ganhou o prêmio nobel da paz. Não é novidade que existe uma mudança na política e nos interesses quando saiu o xerife (Bush) e entrou o democrata na presidência. Pelo menos eu acho que não seja. O quanto essa mudança é significativa, ou o quanto ela simplesmente "é", não é fácil definir.

Comentou Saramago em seu blog que um dos grandes intuitos de Obama, antes de se eleger, era garantir a seguridade da saúde para o número escandaloso de nada menos que 50 milhões de norte-americanos que não têm dinheiro para pagar um plano, no país onde o sistema foi corrompido na década de 50-60 com companhias e suas "grandes intenções" (o quanto isso é verdade, ?, para esta informação minha única fonte é o documentário de Michael Moore, "Sicko"). Bem, aí acontece o que já se sabe, que estas companhias e o seu "jogo de interesses" agem com todos os seus braços, a estender seus tentâculos e acabando por impedir que mudanças significativas aconteçam e alcancem o efeito que deveriam, no caso, que esta população às margens pudesse ter acesso a um sistema de saúde.
Claro que se estas mudanças se concretizassem estas tais "companhias" perderiam parte de seu espaço e poderiam ir à bancarrota. (Afinal, com um sistema de saúde público que eventualmente funcionasse, quem pagaria pra ter um privado a não ser a minoria "rica"). (Embora, seria possível uma convivência "pacífica" entre os grandes capitais, no meu entender, se não houvesse tanta intenção de poder, e de se manter a situação como está).

E quem é que acredita ainda que nós vivemos num sistema democrático? Governados por presidentes, por Lulas, por Berlusconis, por Obamas? Alguém ainda tem alguma dúvida de que snao realmente as grandes corporações capitais as que ensejam como o mercado deve seguir suas regras, pra gerir melhor os seus lucros?

No final das contas, se trata sempre de um jogo de poder político (Foucalt), para garantir que esta minoria de alguma forma conserve o que "por direito lhe pertence". Por direito lhe pertence, leia-se, o que lhe foi historicamente herdado, preservado e perpretado, com as variações pequenas. Mudam-se os ricos, mas não a riqueza. Os demais, os que de alguma maneira estão excluídos pelo cômputo histórico da participação no que quer que seja, num sistema de saúde decente, num acesso a cultura e Universidade, a lazer, cultura, alimentação adequada, estes continuarão às margens dos interesses dos que querem pra si apenas estes "privilégios" (diria Clarice Lispector, "Amor é quando é concedido participar um pouco mais").

E estas senhoras farão tudo o que for preciso, sempre, para manter este poder, disfarçadamente (ou nem tanto). Mesmo que consigamos identificar: cá estão todos os "culpados", ou em termos menos cristãos, cá estão todos os que agiram em prejuízo dos demais, bem, mesmo assim, mesmo que todas as pessoas fossem capazes de ver isto com clareza, não teríamos a solução para o problema.

A maior miséria mesmo, infelizmente, é a nossa de dentro...

domingo, 20 de setembro de 2009

Der erste deutsche Text.

(Dieser Text war auf Deutch gedacht, und so konzipiert).

Die Weisheit sagt dass das erste Etwas vergessen wir nie. (Beziehungsweise sagt sie eigentlich nichts, sie schweigt nur). Das erste Mal. Buch. Schrift. Kuss. So ist es, würde ich sagen.
Ich weiss nicht ganz genau was der Efekt ist, nicht auf Portugiesisch zu denken, und einen Text auf Deutsch zu verfassen. Weiß auch nicht genau, ob es mir gelingen wird.
Mit viel Glück werden sich am Ende ein paar Sätze verbinden und ein Sinn aufbauen.

Die erste Lektion wäre die Freiheit verlassen. Verlassen sollte ich jedoch nicht sagen da ich schon bevor keine hatte. Mir gefällt besser die Begrenzung auf diese, sodass die Grammatiker nicht an mir stören. Wenn wir vergleichen können, ist es wie in kleinen Kasten bleiben die keinen Aus - und Eingang haben.

Nun beschäftige ich mich mit dem komischen Gefühl allein in Gefängnis zu sein. Ohne Leben, oder wenn man das Leben nicht ausdrücken kann. Fremdsprache ist so, eine seltsame Welt mit endlosen Möglichkeiten die sich jede Morgen aufmacht um einen Augenblick später wieder zu schließen. Wäre das die Höffnung?

Die Möglichkeiten schalten sich ein und aus wie der Herzschlag. Halten wir einen fliegenden Begriff im Wortfeld fest, und das Feld kollabiert im schmalen Ergebnis: jetzt gibt es etwas. Das ergebende Sinn hat Zeit sich auszusprechen: so fängt das Wort an.

Der erste Deutsche Texte sagte weder "Fiat Lux" noch "Am Anfang war das Verb". Er schliesst sich: das Wort existiert, und war immer da.

Para onde?

Me perdi e não há conserto.
Foi nalgum lugar entre há 4 dias e o não sei.
Ficou uma sensação estranha,
ou era a vida deixando de ser,
ou eu mesmo, não soube bem.

Fui juntar os restos,
limpar os estragos.
Avaliando os danos,
tentando chegar à conclusão
o que seria de me perder, resolução.

E depois das conclusões
não soube ponderar
se danos irreparáveis
se um bandeid me deixaria
consertado de perdições...

Afinal, o que há para se consertar?
Se conserta realidade que já é,
que não voltará
em tempo de se arrepender,
ou se a deixa sobre ela pairar?

É idéia finda,
todo o mote da discussão
de se perder ou não,
começaria antes,
se para se achar houvesse solução.

Com isto chego à resolver:
não se pode perder
o que nunca se esteve achado.
Se perder era outra coisa.
Uma coisa de futuro, postulado.

Então, apenas digo,
depois de me perder.
De perder os cálculos estimativos
Onde foi que fiquei e me deixei
Para perder os rumos e abrigo.

Só no depois é que posso
escrever o me perder.
Mas também nisto estou perdido
sozinho e sem dica.
Deixando a perdição sair.

Afinal, toda vez que perdido.
Sigo descobrindo,
se de dentro pra fora,
a realidade constrói-se de momento,
ou de fora pra dentro.

sábado, 19 de setembro de 2009

Compartilhar.

Se compartilhas, faz com gosto.
Se não compartilhas, aprende-o.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Auschwitz

"Declaro que Auschwitz é a manifestação extrema de uma atitude que ainda prospera em nosso meio. Ela se revela no tratamento dispensado às minorias nas democracias industriais; na educação, inclusive na educação de perspectiva humanitária, que em geral consiste em transformar jovens maravilhosos em cópias apagadas e convencidas de seus professores; torna-se manifesta na ameaça nuclear, no aumento constante do número e da potência de armas mortais e na disposição de alguns pretensos patriotas a dar início a uma guerra perto da qual o Holocausto encolheria e se tornaria insignificante. Ela se mostra na destruição da natureza e das "culturas primitivas", sem que se dê a menor atenção àqueles cuja vida fica, assim, privada de significado; na colossal vaidade de nossos intelectuais, na sua crença de que sabem precisamente o que a humanidade necessita e nos seus esforços implacáveis para recriar as pessoas à sua própria e triste semelhança. Se expressa na megalomania infantil de alguns de nossos médicos, que chantageiam seus pacientes com o medo, mutilam-nos e depois os perseguem com elevadas contas; na falta de sentimento de muitos pretensos pesquisadores da verdade que torturam sistematicamente os animais, estudam o seu desconforto e recebem prêmios pela crueldade.
No meu entender, não existe nenhuma diferença entre os carrascos de Auschwitz e esses "benfeitores da humanidade"."

Paul Feyerabend - Adeus à Razão.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Preparação para a Morte

A vida é um milagre.
Cada flor,
Com sua forma, sua cor, seu aroma,
Cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
Com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
Cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
O espaço é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.

Manuel Bandeira

sábado, 12 de setembro de 2009

Agora

Um tiro certeiro,
no meio do coração,
com palavras preparadas
a disparar, metralhadas.

Uma rajada de vento
na vela bruxuleante
dançando pra cá e pra lá,
até se apagar.

Um desengano,
que não era pra ser
esturricou outra vez
destino lúgubre e profano.

E a vida seguiu, inevitável.

Aconteceu na Sé

O prêmio cabeça raspada

vai marchando, cortejo afora

diluindo com a chuva esboeirada

se prende nas consciências nodosas.


Já era tarde quando passavam

em ritual carro condolente,

o que ia por ali não pronunciavam,

apenas um contínuo silente.


Ninguém soube quando

começou a vida a vazar

pra fora dos corpos terminando

por completo a os deixar.


Mas o início de tudo

sucedeu antes, disse o tempo,

a cidade ainda dormente

levantava findo o crepúsculo.


Em tal hora infâme

levantou-se a mão afiada

e em destino sorrateiro

se encontrou à pele delicada.


Era crime de ódio

disse a multidão alvoroçada.

Mas um olhar penetrou o jovem

fez a cena revelada.


Não era ódio o motivo

de tanto ardente estupor.

Sobre os corpos em alívio,

o crime era de amor.


Ao crime de se deixar amar

souberam com a vida pagar

este jovem de nome Mateus

e aquele de nome João.


Seu único mal fora

o amor de si mesmos,

que de tanto amor,

acabou em vermelho tingido.


Não se lhes prestaram honrarias

nem se lhes breve disseram

"foram ambos honestos homens".

Só o carro, na rua fúnebre, seguia.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A Hora da Estrela: Clarice.

"...E quando acordava? Quando acordava não sabia mais
quem era. Só depois é que pensava com satisfação: sou datilógrafa e virgem, e gosto de coca-cola. Só então vestia-se de si mesma, passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser..."

"...Mas um dia viu algo que por
um leve instante cobiçou: um livro que Seu Raimundo,
dado a literatura, deixara sobre a mesa. O título era
"Humilhados e Ofendidos". Ficou pensativa. Talvez
tivesse pela primeira vez se definido numa classe
social. Pensou, pensou e pensou! Chegou à conclusão
que na verdade ninguém jamais a ofendera, tudo que
acontecia era porque as coisas são assim mesmo e não
havia luta possível, para que lutar? ..."

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Discurso final de "Prayers for Bobby."

Como disse há um mês, aqui transcrevo aquele discurso...


"Homossexuality is a sin. Homossexuals are doomed to spend the eternety in hell. If they wanna to change, they could be healed of their evil ways. If they return away from temptation, they could be normal again. If only they would try and try harder if it doesn't work.

These are all the things I said to my son Bobby, when I found out he was gay. When he told me he was homossexual, my world fall apart. I did everything I could to cure him of his sickness. Eight months ago, my soon jumped over a bridge and killed himself.

I deeply regret my lack of knowledge about gay and lesbian people. I see that everything I was tought and told was bagetry and dehumanizing slander.

If I had investigated beyond what I was told, if I just listen to my son when he puted his heart out to me, I would not be standing here today with you, filled with regret.

I believe that God was pleased with Bobbies kind and loving spirit. In Gods eyes kindness and love are what it's all about.

I didn't know that each time I echoed eternal dammnation for gay people, each time I refered to Bobby as sick and perverted and dangerous to our children his self-estime, his sense of worth were been destroyed... and finally... his spirit, broke beyond repair...

It was not Gods will that Bobby climbed over the side of a freeway overpass and jumped directly into the path of an eighteen willtruck which killed him instantanealy. Bobbies death was the direct result of his parents ignorance and fear of the word "gay".

He wanna to be a writer. His hopes and dreams should not have been taken from him but they were.

There are children like Bobby sitting in your congregations. Unknown to you, they will be listening as you echo "amen"... and that will soon silence their prayers... their prayers to God for undestanding and accepteance... and for your love.
But your hatred and fear and ignorance of the word gay will silence those prayers...

So... before you echo "amen" in your home and place of worship, think... think, and remember... a child is listening."

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Algo

"Há algo no meio de nós quando fechamos os olhos que não tem nome. Este algo é o que somos."

José Saramago

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Diferente

O que nós não percebemos é que... Somos todos absolutamente diferentes. E estamos desesperados para sermos iguais. Estamos espumando, babando, viscerando por sermos iguais. O pensamento ponteia sempre querer ser igual. Se for diferente... deu errado.  A única realização. É perceber que a diferença é a única coisa que nos une.

Se faz

Se faz quando o coração tem vontade de parar. 
Se chora.
Se faz quando o choro não quer sair.
Se reza.
Se faz quando a reza não se acredita.
Se silencia.
Se faz quando o silêncio dói em venenos e ácidos efervescentes sobre o corpo.
Se bebe.
Se faz quando o beber embriaga até cair envenenado.
Se grita.
Se faz quando o grito engasgou.
Se permite ao coração que pare.

domingo, 23 de agosto de 2009

O Coração

Obscuro, obscuro, obscuro, eterno.

Que veia é a que faz o sangue correr.

O drible entre uma artéria e outra,

e confuso o coração mistura,

se caindo pesaroso apaixonado

de novo pelo mesmo fado.


Mas não pensemos que não se tenha avisado

é longa a data desde quando se pronunciou...

ao coração deixaram-no de lado,

e por vingança da vida o controle ele tomou.


Resolveu que queria pra si, e mais ninguém

o intuito original de toda razão

a de gerar ordem e gerir organização,

e fez progressos que não se soube bem.


Mas o coração se cansou desta labuta

entregou o cetro pra outra mão arguta

que lhe desse garantias de manter a razão

e o deixasse em paz com sua paixão.


Foi-se dali com bico calado,

beiço trôpego e mãos para baixo.

Mas levou consigo o rim e o fígado 

Em tempo de dizer, “Autonomia, sem mim? Não!”


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Haja sexualidade

E depois eu andei pensando como o Caio Fernando, o que mais há pra se dizer sobre os gays.
Andei pensando dolorosamente sobre a adolescência gay, o quanto é um período conturbado. Bom, adolescência é sempre complicada. Já toquei brevemente no assunto num tópico lá atrás "Uma Ferida Aberta".

Sim, toda adolescência é um período difícil, frase mais batida não há. Mas vamos colocar um ingrediente a mais de complicação, o adolescente filho da classe média é gay. Ah bom, aí fica meio que um samba do balangandan. Não estou autorizado pela consciência a falar da adolescência gay nas "classes ricas" (e pouco das pobres). Pelo simples fato de que não vivi e de que não tive nenhuma experiência com isto.
Entre os pobres, o pouco que eu fiquei sabendo de amigos... é parecido. Como não tenho amigos ricos, esta parte ficará pra quando não sei. (E é uma coisa impressionante, as histórias de gays adolescentes, ou jovens que saem do armário para seus pais, como é parecida).

Como um filho gay de pais de classe média sempre soube que, o desejo dos pais da classe média é o casamento de seus filhos. Se o filho for homem, ele tem que ser um macho, provedor-reprodutor. A família tem que se assegurar, de que o machinho, novo no rebanho, consiga angariar para si, e para a moral, sempre novas cocotas, de preferência altas e independentes. (Pelo menos que assim se pareçam...)

Se a filha for mulher ela tem a opção forçada de início à vida sexual mais tarde, é claro, não queremos afinal nossas honras lavadas. Se isto parece manjado, ainda dita por aí as leis faladas e silenciadas de um sem-número de famílias, acreditem...

Aí sorrateiramente, como que dando uma rasteira nos pais, os filhos aparecem com um "sou gay", sou bicha, maricas, viado, gosto de dar ré no kibe, (ou diriam os mais sensíveis: sou diferente...) ou ainda com um "sou lésbica", sapa, calço 47, colo o velcro, ou as mais sensíveis, sou uma menina que gosta de meninas. (A diferença entre o que é a sensibilidade masculina e a feminina, notória: a homossexualidade masculina é mais impronunciável que a feminina mas não esperávamos diferente em uma sociedade falo-centrada).

As reações, bem adversas, vão de socos e pontapés, a botar fora de casa, a choro, a onde foi que eu (nós) errei(amos), a estou sentindo uma dor forte no peito. Há pais que enfartam (sim, história confirmada em primeira pessoa). 

Pra mim, gostaria de alguma coisa à Carmen, no último ato, depois do, Sou gay..., És gay? 
"Ui, cest moi(...) laisse moi passez!"

(o coro, óbvio, acompanharia com o "Victoire, Bravo!", saudando o toureiro...)

Acho que a melhor forma de contar teria que ser alguma coisa do gênero "pai, mãe, sou gay, agora vou me jogar no fogo ali, pra lavar a honra da família..." ou como fez um antigo conhecido: "pai, mãe, sou gay, e estou me expulsando de casa..." (pra evitar futuros danos mútuos, é CLARO)...

Mas sim, sempre se pode esperar a simpatia, ou as reações inusitadas, mas bonitas... Disse um amigo meu pra sua irmã (cujos nomes não cito por óbvio), "Sonia, eu sou gay...Nossaaaa Diego! Eu sabia que você era sensível, mas não sabia que era tanto!".
Infelizmente se trata de uma minoria.

Passado o choque, vamos às administrações dos efeitos colaterais. No caso de expulsão, eu não sei o que há para administrar, é fato, como se administra os pais que além da reação chauvinista, ainda expulsam os filhos da casa. Ah bem, no meu conceito, cadeia é um lugar bem novo e esclarecedor. Mas não me julguem, não é nada, a não ser um bom presente à sua bondade receptiva para boa nova.

Se a reação foi um pouco menor, vão ficar em maior ou menor grau sempre algumas frases de conteúdo interessante. "Eu não entendo você ser gay... não entendo gostar de homens, não entra na minha cabeça como um homem pode deitar com outro."
Esta é a primeira delas. De minha parte, eu não entendo não entender. E não se tratando de culpas, de um não entender o outro, cito apenas que há uma relação vertical: se você não não-me entende, eu não não-te entenderei. Conseqüentes. Portanto, se deixardes o teu não me entender, por conseqüência, o meu se desatará no ato... Entretanto, se insistes, não há o que eu possa fazer.

Outra chave mestra do depois da armadilha que os filhos, estes pirralhos mimados com suas novas modas (e agora ainda Emos!), nos trancaram é "a sua situação" (acho que já deu pra perceber que eu adoro o light motif "o inominável". Foi bem dito por Wilde há muito tempo, como o "amor que não ousa dizer o nome". Pelos vistos ele continua emudecido, e agora fazendo questão de se esconder). "A sua situação", deve sem dúvida se referir ao meu desemprego temporário. (Eu jamais pensei que se refiriria a eu ser gay, se alguém pensou).

Uma outra chamada interessantíssima é o "não conte pra ninguém". Ai de mim, contar pra alguém que sou gay. Nunca isso passou pela minha cabeça! Vou esconder sempre a sete chaves, embaixo da minha pele aqui, esta coisa tão horrorosa que é, ser gay.
"Mas eu só quero te proteger." 
(De seu egoísmo e chauvinismo?).

Finalmente uma pedra preciosa também é a "tudo bem, mas não traga seus amigos gays e/ou namorados(as) aqui em casa, não nos obrigue a passar por MAIS esta humilhação..."
Adoro essa. É como "ah você é gay? Pois então faça-me o favor de virar uma caixinha de alguns centímetros, e posar como motivo de decoração da sala (não esqueça os laços)".

Há uma série de variações a estes temas acima, e algumas outras que desconheço, porque a loucura é a maior de todas as criatividades e sempre encontra novos caminhos pra se apresentar entre públicos refinados.

Mas é claro. Seria esdrúxulo não considerar o sentimento dos pais. Não considerar que sim, pra eles também é difícil aceitar filhos gays (oras, pros filhos, gays, também esta aceitação em geral não é imediata). 
E o porque destas descrições precisas? Porque a parte a estes sentimentos pré-preparados que vêm longa data, desde a sociedade cristã, da "culpa dos gays em o serem", estes que queiramos ou não teremos de lidar, a parte a isso, precisamos, hoje ou amanhã, dissolver um pouco da auto-hipocrisia, e do sentimento conivente com o preconceito, por indulgência... (Conivência essa, bom que se note, que eu também passei, e fui abdicando, em favor do bem-social).
Infelizmente... uma libertação apenas não basta.