domingo, 28 de outubro de 2012

Solidão

Escrever sobre a própria solidão como o leit motif da vida enquanto escuta, sozinho, depois de um final de semana extenuadamente sozinho, os Intermezzi de Brahms. Talvez seja esta uma prova cabal de que a solidão é a pedra chave de nossa vida. Talvez não só da minha.

Sentir-se só. Absoluta e completamente só em todas as suas mínimas características e reminiscências de memórias... em toda a sua subjetividade perceber que não encontra par no mundo pra se compartilhar. Que o compartilhamento de si é uma descontinuidade ab-rupta. Ininterrupta. Em tudo aquilo que importa, em todo o micro-universo de sua consciência, sentir-se isolado e incomunicável. Há ali afinal uma prisão maior do que outras quaisquer prisões: a de ser livre, mas não se poder comunicar. Não simplesmente existencial, não de simplesmente haver liberdade (sem saber se o há), e portanto angústia. A solidão maior que não seja a existência de si, mas a incomunicabilidade. O mundo interior, fechado pra si. A linguagem externa sempre tateando. Tateando emoções, sensações. Nos ludibriando com um conceito inventado, a verdade. A verdade, o conceito inventado pra nos dar segurança. Não há nestas nossas pequenas memórias nada mais falso que o próprio conceito da verdade. Porque parece colocado a mão neste fluxo ininterrupto pra descortiná-lo com a forma final, a verdade. Mas há, de fato, apenas sensações, emoções, análises, pensamentos livres, ideias e ideais se atacando, sobrepondo e dialogando. Não além disto algo que esteja por cima, uma verdade...

Há apenas estas pequenas memórias que estão aqui se derrubando. Este fluxo que não se controla direito. Este fluxo é a versão consonante da solidão.