sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Exclusão

A exclusão exclui a si mesma.

sábado, 3 de outubro de 2015

História Curta

(Esteja a força desses poemas
na mesma altura da violência que o gerou
não estando a seu par,
esteja a lembrança para
um réstio duradouro de vida.
Que lute contra esta violência
que nos vai comendo por baixo
sem que a percebamos.)

Um estranho andar funesto
vai marchando, cortejo afora
preso em consciências nodosas.
a chuva acompanha pela rua.

Era já tarde quando passava
em ritual carro condolente,
o que ali ia não se pronunciava,
fluía o contínuo silente.

Não se soube quando
começou a vida a vazar
fora dos corpos terminando
a por completo os deixar.

Sucedeu quando, leu-se epitáfio,
a cidade ainda dormente
levantava findo o crepúsculo.
Uma agonia crescente.

Era crime de ódio
disse uma multidão alvoroçada.
Um olhar penetrou os jovens:
fez a cena revelada.

Não era ódio o motivo
de ardente estupor.
Sobre os corpos em alívio,
o crime era de amor.

De pouca memória dada

um pouco tempo que se 
para amar tiveram.
Dois jovens, nudez estirada.

Vão ali e aqui descansando
Esturricados balançando
No espaço corpóreo armado
espesso o pesar derramado.

Estranha a fruta da árvore

Sangue nas folhas, sangue na raiz,
sangue sobre tudo que se diz
corpos pretos sob a brisa e mais nada.

Dois são os jovens em silêncio
omitidos das páginas escritas
Juvenal diriam é o nome deste.
Aquele de nome Juvêncio.

Seriam outros seus nomes talvez,

real-nomes, nomes da vida
santificados seja o Vosso nome
venha a nós...uma história repetida

Corpos de presença absoluta
Deusa dos jornais de tanto amor,
morte e mesmo esplendorosas fotografias  
em vermelho tingido de ardor.

Não se ouviram sacerdotes
não se lhes prestam homenagens
não se lhes breve recitam
"homens honestos que foram".

Não se lhes prestaram honrarias
Não se lhes rendem bajulações
Apenas sozinho na rua fúnebre
o séquito do carro pingando seguia.

Uma hisória desimportante.

Espero. Espero. Espero. O dia em que ele virá. Virá feliz, muito feliz pra mim, ao meu encontro, espero a feliz vinda, com boca cheia me dizendo, "minha pequena borboleta, pequenina jovenzita, minha pequena, meu perfume de verbena..." me gritará ao chegar. Estou, respondo. Perfume de verbena, o nome que ele me chamava quando tava aqui... Há um grande tempo eu espero, uma longuíssimo tempo, mas não me pesa. Guarda o medo... Faço a espera com segurança.

Voltará, sim, diz comigo agora, diz, voltará. Sim voltará... Diga comigo.
Não me pesa esta grande espera, tenho cá grande esperança no coração, uma fé, ele volta. Espero o primeiro encontro,"Minha pequenina mulher, meu perfume de verbena..." me gritará preocupado, "estou", respondo.

Estou em minha cama, ligo a luz, ele vem hoje, sei que vem. Os trens chegam duas vezes ao dia, o que chega à noite eu já o escuto glin glin glon, sim ele está próximo... A noite, todas as suas tristes horas cada qual mais triste que a próxima, só uma delas feliz, a de sua chegada.

Alguém vem, alguém bate na porta, me chama pelo nome, corro esbaforida, sim, deve ser ele  que chegou, gekummen, gekummen, gekummen.

Vou ao seu encontro, ao seu encontro, estou ao seu encontro. O encontro. É o demônio das águas. Meu tudo, minha vida, cego de amor, corro ao teu encontro, me jogo no teu braço. Te beijo, te mordo te quero. Morro. Morro de maldição, amaldiçoado eu, amaldiçoado você, demônio das águas. Iechibaba a nos amaldiçoar, tu porque me deixou por outro, eu porque me sacrifiquei por ti, Iechibaba não nos libertará. Te beijar, te agarrar, te abraçar e morrer. Agradeço o encontro, agradeço esse momento, agradeço o amor, ter experimentado esse pequeno amor em tão pequeno tempo em tão pequeno espaço, tão por acaso. Esse amor que já se foi. Selo tudo com o sacrifício, encomendo sua alma a Deus, viro o demônio da morte das águas, a morte do amor.

Iechibaba me transformou. Sou uma Bludicha, demônio nas águas. Atormento os seres, tiro-lhes dessa ilusão de amor. Ensino-lhes que todo sacrifício é fútil, vão.

sábado, 1 de agosto de 2015

Luto,

luto com as armas que tenho
sangue, mortes e amores e violência
a ópera das dores e da demência

Se soubesse com outra coisa lutar
se soubesse usar do bem-estar
estaria a cerzir colunas sociais
desceria ao leitor as boas morais

Mas que estranha esta luta
que estando sozinho nos meus gostos
que sem companheiro pra desgostos
deixo intacto o grande circo do sonho

Peço licença pra me derramar
e rendo homenagem àqueles que
não como eu na maneira de lutar
de seu bom prazer de bem-estar
tenham a boa-ventura de um dia morrer
sem me escutar querer

(Quase Anônimo)

domingo, 26 de abril de 2015

...

De dentro da prisão em que o muro somos nós nunca estamos a sós.
Luas e sois passam e é a terra que gira.
Estaríamos agora de ponta cabeça?
Girando e girando.
Pode me informar as eras? Que eras são?
Ai eu deixo uma pergunta.
Quem deu o gênero ao mome das coisas?
Quem deu nome as coisas de gênero?
Segreguemos frangos.
Devem ter sido seres humanos.
A família explica.
A escola explica.
A igreja explica.
A ciência chega de nariz em pé, e pede água.
O rio pede sol, de janeiro em diante.
É que é tão difícil ser feliz.
É tão difícil ser humano.
Mas o que é mais difícil e tem um caráter quase utópico é ser.
E o que vocês seriam se não fossem o que são?

(Anônimo).

sábado, 4 de abril de 2015

Viver

Ficamos fazendo barulho por aqui ou ali. É uma coisa, um discurso interminável de resolver problemas ou de criar, coisa de se elevar o auge da existência. Ficamos em tempo de enlouquecer fingindo sanidade eterna, que é prova de que maior loucura não há. Discursos sobre discursos um querendo enganar outro, ou sobrepor, ou anular, ou desexistir. Mas olha... o tempo nos vai comendo bem silente. Não tem muita análise de discurso por ali... Bem quietinho. Bem desavisadamente. Bem sem querer nada. Vai comendo manso espreitando a bocada final. Gulosa. Demora um pouco mais um pouco menos e Zás! Demora um nanosegundo, um ano, uma década ou século. Zás. Afinal de contas como é que o tempo se conta sem as invenções da física de relojoaria atômica e outras artimanhas ultra-precisas. Se conta por eventos de importância e desimportância organizadas em discursos que se sobrepoem, se analisam, se interconectam sem nenhum sentido exato pela não existência de passado, presente ou futuro. Não existindo no tempo uma direção a que correr sendo um organismo duro, interceptam entre suas entranhas e peles esses intervalos todos de vidas, daqueles que duram século ou pico, femto, yatosegundos, porque não? Aquele tempo de evaporação de mini-buracos negros (Buracos negros bebês que nem se viu já foram). Estão todos por ali entre o começo e o limiar de sua existência (mas se é que este verbo existe a partir de fora da silhueta do tempo, visto daqui, deste lado de quem a observa).





Escrever

Escreva, escreva, escreva. Pra você escrever o que tem que escrever (mas você não tem que escrever nada e isto precisa ficar abundantemente claro), você vai precisar de três grandes coisas. A primeira de todas e chave primordial, mestra peça de encaixe no escrever é a disciplina.
A segunda de todas, não menos importante, que se junta à primeira em igualdade de aparição é a disciplina. E a terceira, finalmente, que completa o cenário é a disciplina.

Disse Emanuel pra Chico Xavier aí, já alguns bons 60 ou 70 ou mais anos atrás. 70 anos depois e ainda precisamos sempre da repetição.

sábado, 14 de março de 2015

Condotta ell'era in ciepi. Cossotto.

Depois que Fioretta Cossotto cantou, regida por Karajan a maior encarnação da cigana (Trovatore) que confusa joga o próprio filho na fogueira, e narra pro suposto "impostor" o fato... Depois desta redenção absoluta, todas as demais não passam de um ensaio sem graça. Um mero ensaio a quem deve faltar voz, cena, corpo, impressão e sobretudo dramaticidade. Não deve haver na história da ópera agudos mais dramáticos do que Azucena em "Il figlio mio avea bruciatto!" (E irônico este papel ser pra alto!).

Se Verdi visse, certamente diria: é isso. E só isso.

https://www.youtube.com/watch?v=z-GWr5IiyfQ