sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Forma

Os corpos não são para todos.
Existir o corpo não é para todos.
Há corpos que não existem
em sua invisibilidade.

Corpos que não se tem.
Escondidos. Penumbra.
Só se os vê com preza atitude de desprezo.
Luz sobre corpos, desprezo.

A luzes se apagam.
Corpos andróginos.
Corpos marcados.
Corpos coloridos.
Corpos gordos.
Corpos velhos.
Corpos caídos.
Corpos rugados.
Corpos mesclados.

Corpos geométricos de curvas decididas
não são pra todos.
Corpos de penumbra sem luzes incididas
não são pra todos.
Corpos nus em sua inexorabilidade
não são pra todos.

Pra dizer a verdade,
Os corpos para todos são bem poucos meu bem.
Corpos incomuns não são para todos
Corpos unidos potência
desnudos meio moucos...
Apaga-se a luz.

Todos os corpos que não são para todos,
inviabilizados não são pra todos,
invisibilizados não são pra todos,
desnaturalizados, desarmados,
desatados do natural
desamarrados de seu ser,
forçados a serem outros,
expressos em existência infame de inquestionável pureza,
corpos corretos encaixotados.

No final, o corpo cria a ilusão
de que o corpo é meu.
De que o corpo é teu.
De que o corpo é dele.
Tudo isto que nos pertence,
mas que um dia deixará de
e que não falemos neste dia,
oxalá longe esteja.

São contudo os corpos, coletivos
O desejo dos corpos é coletivo
A violência sobre os corpos nasce coletiva
E o que mais importa sobre os corpos é coletivo.

A individualidade dos corpos
no próprio corpo,
fala com poética ilibada benevolente,
o lirismo em profusão,
"meu corpo livre,
teu corpo livre,
o corpo dele livre."

Uma falsa impressão da liberdade
e estará sempre ausente
perdida, ao longe.

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