sábado, 27 de agosto de 2016

Impeachment

Este impeachment está sendo escrito linha por linha, capítulo por capítulo, palavra por palavra em cima do livro "O Processo" do Kafka. Pensando neste processo de impeachment e me lembrei. É impressionante a semelhança entre o livro e este julgamento. Não é só semelhante, são a mesma coisa.

Isto tudo, todo esse espetáculo, que grande farsa.

Vamos todos pra rua farsear junto com os mais altos cargos da nossa república, com os mais altos representantes, sentados em cima da sua bunda inerte. Vamos minha gente, eles já estão mortos.

É um bom capítulo do livro, a atmosfera psíquica é idêntica. A loucura é a mesma. No livro, o indivíduo não sabe sobre o que é julgado, sobre quais crimes cometeu, se é que de fato crimes cometeu. (Ele nasce já julgado de crimes que se quer sabe quais são... o tribunal de julgamento é somente pró-forma). Os examinadores lhe afirmam em tom monocórdio, "Não importa quais crimes você cometeu, não importa se quer se você sabe da lei, que ela exista, ou não, isso tudo é indiferente aos olhos de que, sim, a lei existe e o senhor cometeu crime". Mas que crime teria cometido.

Quase que não importa que ele tenha de fato cometido ou não crimes. O que importa na verdade é este clima psíquico de condenação. Se condena por intenções ("Doutora Janaína, mas isto não é crime", "Como não é crime? Os decretos representaram um inchaço do orçamento, o que foi usado com a INTENÇÃO eleitoreira de um ganhar a eleição, e não respeitaram a PREVISÃO do orçamento"... Intenção tanto quanto previsões não cumpridas viraram crimes). O que garante ao sujeito se ele tem ou não direito não é um papel, um livro (constituição), nem mesmo o bom-senso das pessoas letradas (vejam estes juízes meus senhores, sentados em suas cadeiras, vejam estes doutores e todas estas pretensões farsescas, que circo romano!).

O engraçado é Kafka ter escrito este livro na década de 1920, quase 100 anos atrás, com um apelo ao realismo fantástico, (quando alguns fatos inverossímeis são "inventados") e a partir das reações e dos desenvolvimentos subsequentes a estes "fatos inventados", vamos tecendo uma realidade (kafkiana): a atmosfera do absurdo. (Parece que a realidade beira ao absurdo, mas ninguém está ali pra nos dizer, até que algo acontece e o absurdo entra em ignição). Porque parece que a atmosfera do absurdo está ali sempre presente, pronta a se jogar no precipício, só esperando um empurrão...

A realidade sacolejando no anacronismo da história...

No final vejam meus amigos com aquela severa cadeira de Lewandowski se fazendo de sério, rei sobre todos os reis, de Renan Calheiros tentando manter uma compostura (?) e qual compostura um Senado tenha, a esta severa face de boa temperança, de bom equilíbrio, pedindo vênias, cinco minutos pra se recompor, cinco minutos pra recuperarmos nossa dignidade, cinco minutos, Dilma deve olhar ao superior ministro e dizer letra por letra, palavra por palavra, frase por frase como o (não)-herói do Processo de Kafka, Josef K., com a convicção de quem não precisa de escusas em um processo que já nasceu julgado: "todo este processo que o senhor conduz meu caro, Ilustríssimo senhor Lewandowski, condutor deste inimputável superior dentre todos os superiores tribunais desta nação, este processo todo é uma absoluta FARSA!"

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