terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sobre a Realidade

Desde o começo, quando a consciência das coisas começou a se estabelecer pra mim, e os fatos começaram a se dividir em consciente e inconsciente, senti que tinha poucas opções. Eu podia tentar entender as coisas, a vida e o Universo com as cantoras de ópera, com as heroínas de Turandot, de Aída, Tristão & Isolda. Podia tentar entender como um reflexo da obra de Clarice, de Saramago, de Caio Fernando Abreu. Não é um reflexo linear com regras e postulados bem-estabelecidos. É uma interpretação, diferentemente, e que nem sempre se pode colocar no âmbito racional. Afinal, uma sinfonia de Beethoven é uma sinfonia de Beethoven, e não um conjunto de notas feitas dentro de um contexto, com explicações e análises harmônicas. Estas análises póstumas não podem explicar o que significa escutar a sétima sinfonia, ou a terceira, não podem dizer porque é que fico completamente arrepiado, porque me sinto como os metais encerrando "lindo" o primeiro movimento, ou as cordas logo após, no começo do segundo, com o tema absurdamente lindo e triste (absurdamente lindo quer dizer que não pode ser colocado em palavras). Como eu disse o reflexo da obra de Clarice, de Caio, de Saramago. Ou de Beethoven, Mozart, Chopin. De Brahms, Rachmaninoff, Ravel, Verdi, Puccini, Villa-Lobos.
É uma maneira e pra mim a única de interpretar a vida. Esta seria a primeira opção e a que tomei.

Outra opção seria negar minha realidade, tudo que acontece comigo, negar meus sentimentos, minhas desgraças, minhas felicidades, negar tudo, fingir que isso não faz parte de mim, e seguir completamente na hipocrisia. Esta também é uma interpretação possível. Negar Salvador-Dalí.

Fora disto, a outra possibilidade seria a de morrer. Sempre é possível morrer (mais cedo?, morrer mais cedo, faz sentido?), como forma de silenciar o seu não entendimento pela sua vida (o exagero de pronomes possessivos se justifica). Não é uma questão profunda nem megalômana, como qual o sentido da vida, é íntimo e pessoal, qual o sentido da minha vida. A morte é o silêncio pra esta pergunta, afinal. (Qual o sentido da minha vida? morreu.)

Mas "o sentido da minha vida" como posto, se torna uma armadilha. Por várias razões... Se perguntamos por um sentido racional, caímos da esfera onde se poderia explicar alguma coisa (arte) pra esfera onde não se pode explicar nada (quase nada) acerca disso (ciência). Entretanto, sem o sentido racional, a pergunta se armadilha: ficamos novamente com uma interpretação e não com uma resposta.
E o sentido racional cai numa espécie de incompletude de Gödel. Pois, se o sentido da vida que "me pertence" (ma non troppo) é o que eu soubesse ser, eu perguntaria indubitável, mas é isso?

Bom, não posso buscar um sentido. Não pra mim. Eu desconfio que isso seja verdade pra todo mundo, mas não creio que se chegue ao cerne desta questão.

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