sábado, 12 de setembro de 2009

Aconteceu na Sé

O prêmio cabeça raspada

vai marchando, cortejo afora

diluindo com a chuva esboeirada

se prende nas consciências nodosas.


Já era tarde quando passavam

em ritual carro condolente,

o que ia por ali não pronunciavam,

apenas um contínuo silente.


Ninguém soube quando

começou a vida a vazar

pra fora dos corpos terminando

por completo a os deixar.


Mas o início de tudo

sucedeu antes, disse o tempo,

a cidade ainda dormente

levantava findo o crepúsculo.


Em tal hora infâme

levantou-se a mão afiada

e em destino sorrateiro

se encontrou à pele delicada.


Era crime de ódio

disse a multidão alvoroçada.

Mas um olhar penetrou o jovem

fez a cena revelada.


Não era ódio o motivo

de tanto ardente estupor.

Sobre os corpos em alívio,

o crime era de amor.


Ao crime de se deixar amar

souberam com a vida pagar

este jovem de nome Mateus

e aquele de nome João.


Seu único mal fora

o amor de si mesmos,

que de tanto amor,

acabou em vermelho tingido.


Não se lhes prestaram honrarias

nem se lhes breve disseram

"foram ambos honestos homens".

Só o carro, na rua fúnebre, seguia.

2 comentários:

  1. Nene

    Que beleza, uma beleza tão natural que só podia ter vindo desse cantinho quente e amoroso do seu coração...sigo aqui, tristinha, um pouco sozinha, mas com esperança (um tiquinho) e me aquecendo com lembranças do que um dia foi felicidade. Bjos, te amo.

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